A Catarina Barreiros tem uma missão: descomplicar a ciência por trás da sustentabilidade e comunicá-la. Este é o mote para o Projeto DO ZERO, para o Podcast DO ZERO e para a Cidade DO ZERO. É também uma das fundadoras da Norm.Period, marca portuguesa de cuecas menstruais reutilizáveis. Neste episódio viajou até à pré-adolescência para perceber que é empreendedora desde então.
Empreender por um Mundo melhor com Catarina Barreiros (Do Zero)
Empreender por um Mundo melhor com Catarina Barreiros (Do Zero)
Neste Episódio
Show Notes
Transcrição
As transcrições são geradas automaticamente, com recurso a Inteligência Artificial. Podem conter erros.
Intro 00:00:00
Manual de Boas Ideias um podcast sobre pessoas por trás de negócios brilhantes com Diogo Pires.
Diogo Pires 00:00:08
De volta para mais uma conversa no manual de Boas Ideias. Olá, bem vindos! Se este é o primeiro episódio do podcast que que ouvem? Então o meu nome é Diogo Pires e devo confessar vos já assim de antemão, que durante muito tempo vivia angustiado por não saber qual é que era o meu propósito. Isto aconteceu e foi uma sensação que se intensificou quando me vi inserido numa equipa onde era muito fácil identificar uma causa, uma bandeira, uma missão no fundo, para cada uma das pessoas que me rodeavam e eu ainda estava só com aquela intenção muito crua de fazer a minha cena. Era a única coisa que eu queria fazer. E querem saber uma coisa? Eu continuo apenas a querer fazer a minha cena sem sequer ainda ter trocado o meu propósito por palavras. Não é que eu não saiba qual é o meu propósito hoje. Eu acho simplesmente que é isto que vos disse. Eu ainda não o troquei nunca por palavras.
Diogo Pires 00:01:02
Acredito que seja algo que se encontra entre a comunicação e o empreendedorismo, mas ao mesmo tempo não tenho bem a certeza. Eu simplesmente aprendi a estar em paz com isto. Está bem, Sei que o meu propósito existe, só sou péssima a analisar de fora. Olharmos para nós é sempre difícil fazê lo com distância, porque somos nós. A minha convidada neste episódio não podia estar mais afastada de mim no espectro de autoconhecimento e certeza do seu propósito. A Catarina Barreiros tem uma missão muito clara descomplicar a ciência por trás da sustentabilidade e comunicá la ao público geral. Simples. Este é o mote para o projeto do zero, para o podcast do Zero e para a Cidade do Zero, tudo da autoria da Catarina Barreiros, que é também uma das fundadoras da Norm Period, marca portuguesa de cuecas menstruais reutilizáveis. Vamos estar a fazer aqui uma pausa muito rápida só para vos convidar a subscreverem o manual de boas ideias na app onde estão a ouvir este episódio? Seja no Spotify, Napa ou podcasts, subscrevam e se estiverem a ouvir pelo Spotify, ativem também as notificações para não perderem os próximos episódios.
Diogo Pires 00:02:20
Bom, eu sigo a Catarina Barreiros no Instagram há algum tempo e honestamente quis convidá la porque além de ser uma empreendedora com uma capacidade extraordinária de solucionar problemas, é quem mais me inspira a mudar pequenos gestos do dia a dia em prol do planeta. Eu não lhe disse isto quando gravámos esta conversa, mas partilho convosco agora. Quem a segue sabe que a Catarina desconstrói muitos mitos sobre sustentabilidade. Neste episódio desconstruiu outro, aquele de não misturar trabalho com a vida familiar.
Catarina Barreiros 00:02:51
O meu trabalho também é a minha vida familiar, Ou seja, para mim, a família é muito importante. Nasci numa família muito feliz, onde? Onde sempre fui incentivada a fazer alguma coisa pelo mundo e onde foi explicado que eu tinha nascido com imenso privilégio e que estava. Eu tinha a obrigação de passar esse privilégio para outras pessoas que não tinham. E então sempre quis um bocadinho passar para a minha própria família esta, esta mudança no mundo e tenho a sorte de trabalhar com o meu marido nestes projetos. Como sei? Como sei eu, mas também com o apoio enorme dele que continua no trabalho, onde estava um trabalho muito desafiante.
Catarina Barreiros 00:03:27
E quando eu disse que me queria despedir, que me apoiou a 200% e que disse vamos a isso, não seja o que Deus quiser, não é daqui. Se não correr bem, voltas a trabalhar noutro sítio qualquer. E neste momento sinto um bocadinho como missão quando já vejo a minha filha também começar a mimetizar alguns dos comportamentos que nós que nós vamos incentivando a nível de coisas básicas que ela tem quatro anos, mas de querer dar coisas a meninos que tem que não tem, por exemplo, fazer uma triagem dos brinquedos dela para outros meninos ou fazer embrulhos com coisas que temos por casa quando oferece para os amigos dela. E assim, muito criativa na reutilização ou reciclagem, à maneira como cuida das minhocas. Ela adora as minhocas e os animais. E é engraçado porque ela eu sinto que ela tem algum orgulho nas coisas que nós fazemos. Ela é muito pequenina, mas nessa idade do zero ela estava por lá andar e eu dizia Isto é como a loja dos pais, mas em grande. E depois falo imensas vezes da cidade do zero e foi muito divertido.
Catarina Barreiros 00:04:26
Portanto, acho que é o facto de poder fazer daquela que é talvez a missão profissional também um bocadinho a nossa missão familiar e isso deixa me muito realizada.
Diogo Pires 00:04:36
Eu imagino aquilo que que deve passar pela cabeça dela quando quando está num evento como a Cidade do Zero é tipo um parque de diversões gigante, Não é? Porque no fundo é aquilo que vê em casa, replicado talvez em esteróides. Sim, de uma forma enorme.
Catarina Barreiros 00:04:51
E às vezes eu espero que não seja demasiado. Ela é uma miúda tímida e e às vezes tem que ter algum cuidado. Não costumo pôr nas redes sociais sequer porque ela não. Eu conhecendo aquilo que conheço dela, ela não iria gostar ou.
Diogo Pires 00:05:05
Não gostar hoje ou mais à frente.
Catarina Barreiros 00:05:07
Hoje sei que não, daqui a uns anos não sei. Se calhar torna se super extrovertida, não sei, mas hoje não é. Acho que pronto, tenho de tentar ser mãe da minha filha E não, não de mim, não é. E é ela. Às vezes eu senti que ela estava assim, envergonhada, porque ela sentia que algumas pessoas, bem ou mal, percebiam que ela era minha filha.
Catarina Barreiros 00:05:27
E é um bocadinho difícil passar despercebida num evento criado por mim, não é? Claro, Pronto.
Diogo Pires 00:05:32
Claro. Ela torna se embaixadora do evento também sem querer.
Catarina Barreiros 00:05:35
É verdade, é verdade e sei lá as coisas das atividades infantis da agência. Mas a Gracinha não quer vir também e eu acho que ela não quer muito vir. Portanto, também ela não teve lá muito tempo porque os meus pais levaram e os padrinhos também levaram, Mas tenho sempre algum receio que ela se sinta um bocadinho exposta nesses cenários, mas depois ela acaba por falar das coisas com algum orgulho. Então acho que estamos a tentar encontrar aqui o equilíbrio, certo?
Diogo Pires 00:05:59
E isso é muito giro e muito bonito. Catarina Eu achava bom. Eu achava que esta pergunta que te ia fazer agora é que era a pergunta profunda. Mas é uma dúvida que eu tenho é possível empreender por um mundo melhor?
Catarina Barreiros 00:06:13
Eu acho que é possível e desejável. É engraçado porque eu não sei se as coisas mudaram radicalmente nos últimos anos, se sempre foram assim e se calhar eu sou era um bocadinho mais ingénua, mas.
Catarina Barreiros 00:06:26
Se nós pensarmos na. Há muitos, muitos, muitos, muitos anos. A séculos as pessoas que tinham mais dinheiro faziam filantropia. Portanto, havia esta vontade de usar o dinheiro para a arte para fazer avançar a ciência. As pessoas davam claro, que tinham a discrepância entre os mais ricos e os mais pobres. Era tão grande. Quer dizer que podiam montar se museus com esmolas consideradas esmolas para os para os mais ricos, não é? Mas é. A mim parece me que hoje em dia, quando criamos uma empresa, esquecemo nos um bocadinho que a missão de uma empresa também é contribuir para alguma coisa de boa do mundo. E eu acredito genuinamente, genuinamente nisto. Seja uma empresa de retalho alimentar que quer encontrar opções mais económicas para as pessoas que têm mais dificuldades. Ou seja, uma outra empresa de retalho alimentar cuja missão é a de encontrar produtos mais sustentáveis, seja de uma marca de roupa que quer oferecer uma uma solução para corpos para todos os tipos de corpos. Portanto, acho que nós não podemos esquecer nos que as empresas são de pessoas e para pessoas que eu conheço poucas coisas, poucos serviços que não sei A, A ou B B não é as empresas que vendem para empresas, mas até essas têm, mas têm clientes e têm pessoas por trás.
Catarina Barreiros 00:07:37
E têm. Tem stakeholders que são também pessoas. E shareholders em particular. Mas, portanto, eu acho que qualquer empresa pode ser orientada para o impacto positivo. Se calhar pouquíssimas sessões. Se calhar eu não consigo perceber muito bem como é que uma tabaqueira pode contribuir para para para criar algum bem ao mundo. Mas no geral, em todas as indústrias é possível fazer se melhor. E quando nós criamos uma empresa, acho que temos de partir do início que os valores fundamentais que nos movem e tentar espelhar nessa empresa, porque não podemos abdicar das coisas que achamos que são fulcrais para mim. Por exemplo, o emprego digno, a vida familiar das pessoas que trabalham comigo. Tudo isto tem de estar em conta antes, no enquadramento da minha empresa, não é? Portanto, se eu crio um produto, um serviço, eu à partida tenho de garantir que os pressupostos para mim são valores essenciais que se tem, que têm de estar contemplados. E acho que a sociedade está cada vez mais a exigir que todas as empresas tenham algum sentido de missão.
Catarina Barreiros 00:08:36
Não é? Bem, parece me bem se já se alguns empreendedores se foram esquecendo pelo caminho, então que se relembrem agora por fruto dos seus clientes.
Diogo Pires 00:08:45
Claro que sim. Falando dos seus negócios, como é que se encontra o equilíbrio entre isto que estamos a falar de querer o melhor do mundo e fazê lo muito pela consciencialização do público? Parece que é uma grande parte do teu dia a dia. E no outro prato da balança, gerir um projecto que se quer rentável porque tens de pagar contas ao fim do mês. Como é que tu encontras o equilíbrio entre estas duas coisas?
Catarina Barreiros 00:09:08
Então, a primeira coisa que eu acho que é importante e eu já refleti um bocadinho nesta pergunta porque nem sempre conseguimos fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Há alturas em que não é rentável e para já dizem que não vai ser rentável. É e há outros, se calhar em que para ser rentável, vamos fazer as coisas com uma qualidade 10% inferior àquilo que nós gostávamos. Eu tenho vários projectos, não é? Eu sou muito pouco criativa na escolha de palavras esquecidas para fazer tudo do zero.
Catarina Barreiros 00:09:40
Mas nem todos eles dão dinheiro. E eu acho que nem todos os projectos em que nos pomos, mesmo enquanto empreendedores, têm de dar dinheiro. Claro que se derem um grande prejuízo e puserem em risco todo o projecto, enquanto todo não vai ser, não vai ser muito inteligente, pois o projecto acaba e acabou se a consciencialização.
Diogo Pires 00:09:59
Que começam a cair.
Catarina Barreiros 00:10:00
Exactamente. Mas por exemplo, a cidade do zero no nosso primeiro, no nosso primeiro ano deu prejuízo. No nosso segundo ano nós tentámos simplesmente equilibrar a balança para não dar mais prejuízo. O podcast não é um projecto. Como é que me deu lucro e eu aceito isso. E do zero também. Também não é um projecto de lucro. Eu aceito que estes dois projectos para mim são fazem parte do sentido de missão da minha empresa. O que é que nos dá? O que é que me dá lucro neste momento É o meu trabalho no Instagram. Que é que tem fins lucrativos nos posts que são remunerados, outros não. Portanto, eu consigo gerir a vida dessa maneira enorme que neste momento é uma marca.
Catarina Barreiros 00:10:33
Eu não sou a única sócia, mas mãe, mas também sou co-fundadora da Lucro. Ainda não tirámos lucro para sócio porque uma empresa que tem três meses, não, dois meses não dá.
Diogo Pires 00:10:43
Olha, mas então parabéns por ser um projecto que com três meses de vida dá lucro.
Catarina Barreiros 00:10:47
Dá lucro, dá lucro. Sim, sim e já deu logo. Felizmente no primeiro fim de semana foi uma surpresa que nós tivemos. Mas. Mas sim, portanto nós temos de ter projetos que dão lucro para conseguir fazer também outros projectos. Missão Nem todos têm de dar lucro. É isto que eu acredito, não é? Não, não é. Temos de não ser às vezes tão gananciosos. Porque que lucro é que nós queremos com estes projetos? O que é que eu quero tirar daqui? Eu quero ser milionária ou quero simplesmente viver confortável? Eu não tenho qualquer ambição de ser milionária. Esse é o primeiro ponto. Não, não, não, Não sinto que haja nada na minha vida que vá exponenciar marginalmente. Melhorar tanto com o facto de eu ter 1 milhão € na conta em relação ao que eu tenho na minha vida.
Catarina Barreiros 00:11:32
Agora já tenho, já tenho muito daquilo que me faz muito feliz. Gostava de ter só a casa paga. Era a única coisa que eu gostava de chegar para não ser depender de juros e do Banco Central Europeu. Mas aquilo que nós temos de pensar é não sermos também demasiado gananciosos. Porque quando nós distribuímos também alguma da riqueza, não só pelas pessoas estão à nossa volta, mas por projectos em que em que acreditamos, mas também recebemos muito em troca. E aquilo é a gratificação de de receber a felicidade de outras pessoas. Eu sei que isto é um bocado, parece um bocado de balelas, mas eu fico genuinamente feliz quando eu sei que alguém gosta de trabalhar comigo. Eu fico genuinamente feliz quando sei que o apoio que a empresa deu a um projecto, uma ONG que fez alguma diferença, isso se calhar deixa mais feliz do que ter mais 1.000 € ao final do mês. E se calhar eu digo isto porque efetivamente não sou milionária e portanto ainda não estou assim tão. Se calhar se calhar meu negócio é demasiado pequeno para pensar assim e nesse caso espero que se mantenha.
Catarina Barreiros 00:12:28
Mas. Mas acho que temos de ter cuidado com a ganância. Às vezes se calhar não querias ouvir num podcast que querias falar de empreendedorismo e se calhar não.
Diogo Pires 00:12:35
Não, não de todo. Aliás, eu fiquei meio que aqui parado porque estava a idealizar essa quase dicotomia que é estarmos num negócio com uma consciência de que não, não precisamos de estar lá para enriquecer efetivamente.
Catarina Barreiros 00:12:53
Sim, é preciso que toda a gente. E que funcione. Ou seja, eu não. Lá está a discrepância entre aquilo que é confortável e aquilo que é ser milionário ou não. Nada contra quem quer ser. Acho ótimo que usem esse dinheiro para fazer alguma coisa. Também acho espetacular, mas eu não sei se seria mais feliz, pelo contrário, é uma dor de cabeça ter de gerir muito dinheiro.
Diogo Pires 00:13:15
Pois eu ouvia isso aqui há anos, mas houve. Houve alguém que ou que lia. O que eu vi também não é uma situação de génio, mas houve alguém que que que disse que que o dinheiro gerir muito dinheiro, aliás, ter muito dinheiro acrescenta te uma camada que tu não tinhas, entre muitas outras, mas acrescenta te uma que supera todas as outras, que é a obrigação de saber geri lo.
Catarina Barreiros 00:13:39
Sim, claro. Sim, porque é muito fácil perder muito dinheiro. É mesmo muito fácil perder muito dinheiro. Eu sim, eu já. Obviamente, nas empresas, nas minhas empresas já geri muito dinheiro. Quer dizer, a loja que neste momento decidimos fechar e ainda bem, por estar a dar uma de cabeça no primeiro ano fez 500.000 €. Portanto, gerir este tipo de dinheiro, de facto é uma dor de cabeça. É uma valente dor de cabeça. Não? Lá está a loja. Nós não tirávamos dinheiro para nós. Era para pagar aos nossos, aos nossos colaboradores e é pagar de maneira justa. Portanto, e não me arrependo nada de termos tido a loja. Foi, foi ótimo, foi um projecto bom, mas efetivamente tinha de acabar que estávamos mesmo esgotados. Mas gerir essa quantidade de dinheiro é porque tudo fica à escala. As dores de cabeça ficam à escala, não é? É muito chato ter de ir pouco dinheiro quando ele falta. É mesmo muito chato. Aliás, acredito seja que seja pior.
Catarina Barreiros 00:14:31 Em termos de negócios é mais complicado ainda. Mas gerir muito dinheiro põe um grande peso, uma grande responsabilidade. No caso do diretor financeiro de uma empresa ou em quem estiver a fazer essa parte.
Diogo Pires 00:14:43 Com o dinheiro. Sim, sim, sim, sim. Podemos voltar à loja mais à frente.
Catarina Barreiros 00:14:47 Podemos quando.
Diogo Pires 00:14:48 Quiser. Então, começando por falar sobre o projecto do zero para para alguém que esteja a ouvir o manual de boas ideias, que faça parte da comunidade e que não que não esteja bem por dentro do que é que é o projecto do zero. Quero explicar o que é que é o projecto.
Catarina Barreiros 00:15:03 Então o Projeto Zero é um projecto de comunicação sobre a sustentabilidade. Assim, numa linha, é isto o que nós fazemos. Nós tentamos trazer os temas da sustentabilidade de maneira simples, mas baseada em ciência para o público geral. Nós não temos todos tempo. Por exemplo, pegando numa das últimas coisas que fizemos para ler os programas eleitorais, todos os partidos e o projeto zero, o que quis fazer juntamente com o último recurso, que é uma ONG.
Catarina Barreiros 00:15:27 E esta é outra coisa em que eu acredito muito, que é juntarmo nos a outras pessoas para construirmos em comum. Porque sozinhos vamos claramente menos longe e mais devagar. E fomos ler os programas eleitorais e fomos fazer um resumo das políticas e ambientais dos programas eleitorais. Porquê? Porque ninguém tem tempo para ler duas 1000, 3000 páginas de programas eleitorais e nem conhecimento sobre cada tema em específico. E nisso eu acho que senti muito orgulho em trabalhar com redes sociais, porque assistimos nas redes sociais a muitas pessoas, cada uma na sua área, a simplificar os programas para que todos possamos ler. Lembro me sempre da Margarida Santos, que simplificou os programas de saúde sobre um tema sobre o qual eu sei muito pouco. Nunca trabalhei numa instituição de saúde, não sou profissional de saúde.
Diogo Pires 00:16:11 E a visão vai ser sempre diferente.
Catarina Barreiros 00:16:12 Claro que a visão vai ser sempre diferente e portanto, gostei muito desse trabalho que ela fez.
Diogo Pires 00:16:15 Olha, eu desculpe interromper não foi esta. Eu aprendi muito com a tua comunicação, com o último recurso, com a da Margarida, Com.
Diogo Pires 00:16:23 Com outro perfil do Caetano Xavier, jornalista da crónica, exactamente da CNN, que tem também essa página. E é a partir daí. Depois então fui à procura dos programas que queria ver mais a fundo. Mas o ponto de partida foi e foi esse.
Catarina Barreiros 00:16:40 Que bom! Fico extremamente contente porque eu sinto que a internet trouxe desta vez um acréscimo à democracia. Acho que todas estas páginas e aqui eu até vou excluir a minha intervenção, mas conseguiram clarificar assuntos muito complicados para a maioria das pessoas, para depois poderem efetivamente afunilar e ler aquilo que interessa, porque os debates acrescentaram muito pouco, É verdade e quer dizer, no fundo nós, nós somos a nossa geração e acredito que nós sejamos da mesma geração, mais ano, menos ano. A nossa geração quer ir ao cerne da questão, quer chegar ao fim. Mas o que eles estão a propor na prática? O que é que é proposto? Não é assim. Fala mais alto do que o outro. Se não usa mais retórica do que o outro. Mais falácias, menos falácias.
Catarina Barreiros 00:17:22 Portanto, quem é que.
Diogo Pires 00:17:22 Venceu o debate? Quem é.
Catarina Barreiros 00:17:23 Que venceu? Quais os pontos do debate que gostei? Eu tive de fazer este teste, esta pontuação. Num dos debates, foi um jornal que fez um repto para que os jovens pudessem quatro jovens para serem avaliados. O debate de Montenegro e Pedro Nuno Santos e pediram me para dar uma pontuação e eu estava pronto para o que temos. Isto não é um isto é, me parece uma daquelas coisas dos desafios dos debates das escolas americanas, não é? E depois levanta.
Diogo Pires 00:17:54 A tua plaquinha.
Catarina Barreiros 00:17:55 E levantas a placa, não é? E ganhou o debate, incluindo O que interessa, não é?
Diogo Pires 00:18:01 E nestas eleições em particular, eu acho que esse foi o conteúdo que mais vezes me apareceu. De alguma forma aquilo caiu ali no algoritmo, no meu pelo menos, e estavam constantemente a aparecer. Era o botão meter, era outra coisa, mas whatever.
Catarina Barreiros 00:18:21 Aos pontos.
Diogo Pires 00:18:22 E até com barrinhas. Parecia aquela imagem de um ringue de boxe em que volta e meia um está a ganhar porque tem mais força do que o outro.
Diogo Pires 00:18:32 Eu fiquei a olhar para ele e pensei.
Catarina Barreiros 00:18:33 Que na prática o que isso trouxe? Nada, não é? Enfim.
Diogo Pires 00:18:41 Olha, ok, sabemos neste momento o que é que é o projecto do zero, como é que surgiu a ideia?
Catarina Barreiros 00:18:46 Que ideia! Eu acho que foi assim, um acumular de experiências, mas o projeto em si nasceu depois de me casar com o João, que é meu sócio também, para além de marido, atualmente é. E nós decidimos que tínhamos de mudar um bocadinho a nossa vida quando casássemos, porque o João já estava muito alerta para alguns temas de sustentabilidade, mais de caráter social e mais relacionados com moda, que eram mais difíceis para mim, porque eu trabalhava na indústria da moda e era muito aficcionada por moda. Eu tinha, por exemplo, alguma consciência mais na parte alimentar. Por exemplo, a minha melhor amiga já era vegetariana há alguns anos, Eu já me tinha também tornado vegetariana, ou pelo menos fazia uma alimentação de base e quando nos casamos, decidimos que era a oportunidade certa, porque nós vivíamos em casa dos nossos pais, tínhamos comprado casa rio remodelado casa e acho que nós tivemos a casa pronta para aí uma semana antes de casar.
Catarina Barreiros 00:19:39 Foi assim mesmo, à tangente e fomos um bocado old school, mas e decidimos que nós não, não tínhamos nenhuma casa em particular. Ou seja, não foi um foi viver com a casa do outro, nem vice versa. Então tínhamos uma prioridade começar do zero a nossa vida em conjunto. Não tínhamos ainda vícios, vá, digamos assim, e percebemos que efetivamente a vida que nós queríamos levar era um bocadinho diferente da vida que os nossos pais se calhar levavam. Depois chegámos à conclusão que não é assim tão diferente. Mas nós morávamos, por exemplo, à frente de um mercado ao fim de semana e o João vivia naquela zona há anos e anos e não costumava ir lá ao fim de semana. E nós passámos a ir. Depois acho que o facto de morarmos no terceiro andar, sem elevador de 50 metros quadrados, também ajudou a tomar estas decisões. Nós precisamos percebemos que tínhamos de reduzir a quantidade de lixo que fazíamos, porque nós tínhamos uns mini baldinhos, que era o que havia na nossa cozinha e que tínhamos de todos os dias despejar lá a baixo.
Catarina Barreiros 00:20:33 E era cansativo não houvesse essa vontade. Depois eu acho que houve uma situação em retrospetiva que acho que fez, que contribuiu um bocadinho para querer trabalhar mais avidamente neste nesta procura por um mundo melhor. O meu, um dos meus melhores amigos de infância, morreu no dia em que nós tínhamos feito a primeira compra a granel e eu tinha posto no Instagram que íamos mudar a nossa vida. Tinha posto aos meus amigos que íamos mudar um bocadinho a nossa nossa vida. Foi uma sucessão muito repentina e eu acho que me agarrei um bocadinho a esta mudança de vida para não fazer o luto de maneira apropriada e para seguir com a vida. E essa também foi uma mudança importante para projetos. A outra grande grande mudança foi quando tive a gravidez da minha filha. Foi uma gravidez de risco, tive um descolamento de placenta muito cedo e fiquei praticamente sem poder sair de casa durante uns meses. Lá está, era difícil andar sem elevador e a minha médica disse pode fazer a sua vida normal, desde não subir muitas escadas e pronto.
Diogo Pires 00:21:33 A vida normal dentro de casa.
Catarina Barreiros 00:21:35 Exato, eu pensei uma pandemia anos antes da pandemia e então basicamente tinha de ficar quieta. E acho que passei por aquela fase de negação em que simplesmente vi tudo o que havia nos canais de streaming e comi todas as porcarias que podia. Até que me fartei. E eu gosto muito de estudar, gosto mesmo muito estudar. É uma Toxic Treats. Se alguém me diz alguma coisa, eu vou investigar a evidência que existe por trás disso e pronto. E decidi que ia usar esse tempo para fazer alguma coisa efetivamente útil e fui à procura das perguntas mais difíceis sobre sustentabilidade, sobre as quais tinha dúvidas do género o bambu é melhor do que uma escova de dentes de plástico ou um papel higiénico reciclado? É melhor ou usar uma ideia melhor. E fui à procura de evidência científica para responder a estas dúvidas meio parvas. E encontraste.
Diogo Pires 00:22:18 Respostas?
Catarina Barreiros 00:22:19 Encontrei muitas respostas, às vezes respostas a mais. Problema às vezes é filtrar os dados que encontramos, não é? Mas aquilo a maior resposta, provavelmente que é que aprendi sobre a sustentabilidade e que depende muita coisa? Depende.
Catarina Barreiros 00:22:33 Se eu tiver uma casa muito húmida, porque é que me serve ter uma escova de bambu que vai ganhar bolor em duas semanas se o bambu vem da China e não for certificado? No caso do Mozal, a certificação mais comum é vier de uma floresta de desflorestação, de que é começar a ter uma escova de bambu? Que opções é que existem mais? Existem escovas de dentes com cerdas reutilizáveis e aprendi sobretudo que estes problemas são mini problemas comparados com o problema da exploração dos combustíveis fósseis, não é? E comparados com o problema da descarbonização energética, mas acima de tudo, ao mesmo tempo que me ia sentindo cada vez mais impotente enquanto consumidora, ia me sentindo também mais empoderada enquanto cidadã, porque percebia que sozinha não ia a lado nenhum que eu deixar de dar uma palhinha, não ia salvar uma tartaruga. Ou se calhar ia, mas pouco provável, certo? Mas que se eu fizesse uma participação ativa na consciencialização de outras pessoas, de repente já somos muitos a querer uma mudança e já falamos com os nossos representantes políticos.
Catarina Barreiros 00:23:28 Mas é diferente. Fazemos parte de grupos sociais organizados e de repente criam se movimentos. Nós, na última cidade do zero, tivemos 20.000 pessoas. Portanto, não estamos sozinhos. Nós estamos mesmo sozinhos.
Diogo Pires 00:23:39 Um evento que na segunda edição tem 20.000 pessoas.
Catarina Barreiros 00:23:42 Foi um bocadinho. Nós não estávamos à espera, confesso. Eu sei que. Ou não se deve admitir isto, mas nós subdimensionado nos tanto que estávamos com alguns problemas no plano de segurança, porque obviamente tínhamos dimensionado para dez, 15, vieram 20 e não contámos uma das entradas das portas porque não a considerámos. E também levou algumas pessoas. Foi ligeiramente acima das 20? Foi. Fomos bons, ingénuos.
Diogo Pires 00:24:07 Mas ainda bem. Ainda bem que foi. Foi. Foi um evento bem sucedido e foi por isso que que as coisas falharam um bocadinho aos planos mais de 5000 pessoas.
Catarina Barreiros 00:24:20 Sim, sim, é muito bom. Eu tento não, não fazer spoiler de tudo. Correu mal porque quem esteve dentro eu adorava as pessoas. Dizer Catarina está super bem organizada e eu a pensar.
Catarina Barreiros 00:24:34 Está bom.
Diogo Pires 00:24:35 Grave seria se fosse ao contrário.
Catarina Barreiros 00:24:37 Sim, claro, não é? Claro, claro.
Diogo Pires 00:24:39 Olha, tu há pouco mencionava aí o facto de deste projecto ter surgido, sobretudo quando a tua vida mudou, quando conheceste o João, o teu marido? Como é que é trabalhar com um parceiro de vida? Vocês conseguem aturar isto ao fim do dia, depois de tudo?
Catarina Barreiros 00:24:56 Tem dias. Não é muito fácil, confesso. Eu hoje em dia já já falamos disso com mais naturalidade. Nós chegámos a fazer terapia de casal, não foi mesmo? Houve alturas muito, muito duras, sobretudo porque é tenho que escolher aqui bem as minhas palavras. Porque. O João é uma pessoa muito open minded e para ele nunca foi um tema. Se eu ganhava mais ou ganhava mais, era um bocadinho diferente do nosso dinheiro e dos dois. Nós somos. Nós somos mesmo old school. Nós temos uma conta conjunta e é essa a nossa conta. Ponto. Não temos o João com dinheiro para comprar presentes para mim, que ele adora comprar presentes para.
Diogo Pires 00:25:37 Não parecer que és tu também que estás a.
Catarina Barreiros 00:25:38 Pensar que sou eu, mas é a linguagem dele do amor e oferecer presentes. Mas. Mas pronto, nós de facto trabalhamos muito em equipa, mas estamos inseridos numa sociedade onde existe. Se no nosso subconsciente existe algum machismo e algum patriarcado de fundo no qual nem sempre pensamos e a empresa fui eu que a comecei, não é para bem ou para mal. Eu comecei o projeto sozinho e o João juntou se então muitas das decisões sempre tiveram a minha palavra final e na maior parte dos projetos continuo a ter a minha palavra final. E o João tem um bocadinho mais o trabalho de backstage. Isto não é fácil de gerir e não é fácil de gerir. Para o homem mais seguro de si do mundo, não é fácil de gerir para a mulher mais bem mais segura de si, do mundo. De facto, foi difícil. Nós encontrámos a nossa dinâmica porque, por exemplo, era muito complicado nós estarmos numa reunião com as outras empresas, elas falarem sistematicamente para o João e a palavra final tinha de ser minha.
Catarina Barreiros 00:26:38 E isto foi complicado. Era uma dinâmica muito complicada de gerir, porque eu não queria nem subvalorizar o João e dizer olhem, é comigo que tem de ter esta conversa, porque também não é verdade. Nós tomamos as decisões em conjunto e simplesmente discordávamos que discordamos muitas vezes. Aí sim, a palavra final era era minha. Mas por outro lado, também era um bocadinho chato. E este é o exemplo mais mais pragmático que o que posso trazer era eu dizer Okay, então estamos combinados assim, assim e assado. Vocês fazem isto, nós fazemos aquilo, encontramo nos na próxima semana e ninguém se mexia na cabeça da cadeira e o João vinha logo a seguir e dizia Pronto, estamos combinados, Fazemos assim assim e assado. Vocês fazem isto, nós fazemos aquilo, encontramos a próxima semana e levantavam se todos. E isto começou a ser um problema.
Diogo Pires 00:27:19 Há muito tempo.
Catarina Barreiros 00:27:20 Estamos a falar há dois anos. Sim, é isto e. Ou seja, nem do outro lado havia a intenção de menosprezar a minha presença ali.
Catarina Barreiros 00:27:30 Nem o João dizia Eu só quero ajudar a pôr este ponto final. Mas tu ajudas me dizendo Ouviram a Catarina? Não ouviram o que estamos aqui a fazer? E foi complicado mudar este chip. Não é do ajudar a dar voz, versos, versos. Efetivamente, dar essa voz não é certo. Não, não, Nem sempre foi fácil. Mas tenho. Tenho a sorte imensa de estar casada com um homem que é efetivamente muito capaz de de ver onde são os problemas, às vezes muito mais do que eu, ele e ele é muito mais aberto a resolver problemas que ele sinta que está com os quais está a compactuar, do que eu sou muito mais resistente, a assumir que estou a fazer parte de um sistema com o qual não concordo. Portanto, bem ou mal, quando eu chamava a atenção ou eu efetivamente mudava. Por exemplo, eu tenho uma péssima característica. É que eu falo bem com toda a gente da equipa, menos com ele. Isto era um problema. Eu tive de passar a trabalhar mais em casa e ou mais no escritório para não estarmos a passar todos os dias à frente da nossa equipa e um com o outro.
Catarina Barreiros 00:28:32 E o João não berra com ninguém. Ou seja, no geral não berra, não se passa e eu passava me com ele. Isto era péssimo para a nossa relação. É péssimo para nós, para nossa empresa, não é? E eu fui. Demorei muito mais tempo a corrigir, a ser do que o João. É engraçado e, portanto, é um trabalho. Eu acho que nos faz, se calhar, trabalhar com a pessoa com quem, com quem partilhamos tudo faz nos. Perceber melhor as nossas próprias fragilidades, tanto pessoais como profissionais, mas também nos faz querer trabalhar nelas mais depressa, porque não está só em risco uma empresa está em risco. Um casamento e uma família.
Diogo Pires 00:29:09 Se o João Oscar Sapato dissesse Hamlet por alguma razão.
Catarina Barreiros 00:29:14 Que esteve em cima da mesa.
Diogo Pires 00:29:15 Como é que achas que irias reagir ao a nova versão do teu dia a dia do teu negócio?
Catarina Barreiros 00:29:24 João, se estiveres a ver que faças, ok. Mas já esteve em cima da mesa, porque o João eu não sou muito inteligente.
Catarina Barreiros 00:29:36 Ele, devido às suas próprias capacidades, muito mais do que aquilo que devia, é provavelmente uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço. E eu sinto que estar só no backstage não é preencher o potencial todo que ele tem. Eu tenho muito a acrescentar ao mundo e eu já falei com ele sobre isso várias vezes e eu acho que ele conseguiria estar a fazer mais e dar mais de si e estar mais feliz com o seu trabalho. Não é que ele não está feliz, nós estamos a trabalhar os dois juntos e é espetacular. Mas de alguma maneira acho que também se calhar está na altura de de vermos aqui um bocadinho as dinâmicas para ele também ter esse espaço. Não, não necessariamente, porque não é essa a vontade dele de ir agora para uma empresa e voltar a fazer carreira de empresa. Porque nós também gostamos desta dinâmica de trabalhar com flexibilidade, por muitos problemas que tenha, mas. Mas acho que sim, está na altura também dele. Não é mau porque ele também gosta do que fazemos e também vê isto como o sentido de missão, mas de fazer um bocadinho mais do que aquilo que do que só o nosso projeto do zero.
Catarina Barreiros 00:30:46 Se bem que o João é óptimo a trabalhar marcas e clientes e tudo mais, tem muito mais paciência para andar ao telefone com pessoas do que eu. Eu sou péssima, tu sabes. Sou péssima a responder a e-mails, sou péssima em tudo. Eu sei o que é que me deixa. Isso mesmo, deixa me trabalhar e faz a minha cena. Sim, e o João fala muito melhor com as outras pessoas e portanto, eu ótimo trabalho dele e, portanto, espero que ele não queira estar efetivamente out out, porque eu ia sofrer muito com essa ausência total, Mas acho que algum distanciamento também nos faz, que também nos faz bem. E eu tenho de afastar bolas, eu gosto dele, Eu quero é que ele esteja bem. Se for trabalhar comigo ou não deste, continuamos a viver na mesma casa os dois e a criar a nossa filha. Está tudo certo.
Diogo Pires 00:31:31 Era um cenário no nariz.
Catarina Barreiros 00:31:34 Mas é um cenário que nunca deixa de ser em cima da mesa. Quando trabalhas com, com o teu marido, com a tua mulher.
Catarina Barreiros 00:31:42 É difícil não se pensar num cenário hipotético, porque sempre que existe uma crise nós pensamos mais vale largar o trabalho em conjunto do que a vida em conjunto. Portanto, isso nunca deixou de estar.
Diogo Pires 00:31:52 Nós lá em casa. Eu já, por várias vezes que sugeri a Catarina, a minha namorada, fazermos algo juntos.
Catarina Barreiros 00:32:01 Tem um nome incrível só para.
Diogo Pires 00:32:04 Fazermos algo juntos e E nós acabamos sempre por conversar. Jantamos a falar sobre. Sobre aquilo que podemos fazer. E há qualquer coisa que nós nunca, nós nunca percebemos Em que momento da conversa é que surge esta vontade quase inconsciente de deixar aquilo numa gaveta. Vamos arranjar forma de isto acontecer de outra forma que não trabalharmos os dois juntos nisto.
Catarina Barreiros 00:32:30 Mas sabes que eu acho que faz parte. Por exemplo, nós trabalhamos os dois juntos no Projeto Zero, mas não trabalhamos os dois juntos nas mesmas coisas. E eu acho que isso é importante. Isso é uma coisa que nós escrevemos muito tarde, porque ao início batalhamos, estamos sempre a tentar levar a nossa adiante naquela coisa em específico.
Catarina Barreiros 00:32:44 Neste momento o João tem temas que são dele e eu tenho temas que são meus. E às vezes o trabalhar juntos não é necessariamente irem trabalhar na mesma coisa e trabalharem para o mesmo projeto, Mas põe te a trabalhar em coisas diferentes. Isso é. Aliás, isso é a maneira que nós arranjamos para não enlouquecer. Percebo, percebo.
Diogo Pires 00:33:02 Olha, voltando então agora à questão da loja como é que, em que ponto do vosso projecto é que surge a loja, a loja do zero? E como é que corre este projecto?
Catarina Barreiros 00:33:14 Então a loja surgiu na Academia e o projecto do Zé, portanto nós casámos. Em 2018. Eu engravidei da Graça em 2019, no início do ano ela nasceu em setembro e a partir de dezembro desse ano comecei mais a sério a trabalhar no projeto dos eixos. Portanto, em setembro foi lançado e no final do ano eu despedi me no início do ano. A seguir o início de 2020 e a loja surge em Novembro de 2020. Portanto, já trabalhava em redes sociais a full time como minha única ocupação há quase um ano.
Catarina Barreiros 00:33:51 Porquê? Porque perguntavam me a maior parte das minhas mensagens na minha caixa de mensagens era Então é que tu compras os urgentes? Onde é que tu compra os champôs e compras aquilo? Então eu pensei fazer uma montra digital com opções que eu considerasse melhores. Por algum motivo, ou por serem marcas nacionais, ou por serem produtos concentrados ou com algum certificado.
Diogo Pires 00:34:10 E aí o crivo eras tu.
Catarina Barreiros 00:34:11 Era o que eu usava, o que eu achava que fazia sentido. Portanto, na altura surgiu esta montra, digamos assim, com 12 escudos por cento dos produtos. Não dos escudos, não dos produtos, mas mais escuros. Tinha variações de cores e tudo mais e. E começou para simplificar a minha caixa de mensagens. Quer dizer, e fiz como loja porque eu tinha um WordPress e no WordPress havia o WooCommerce e era mais fácil fazer assim e sempre ganhava qualquer coisa. Mas para ter uma ideia e as minhas amigas gozaram, mas gozaram por causa disto. Eu comprei seis unidades de cada produto porque do género seis champôs, champô para cabelo oleoso, seis champôs para cabelo seco, portanto tinha lá essas unidades.
Catarina Barreiros 00:35:01 Era uma prateleira a minha loja, porque eu achei isto e para me entreter de vez em quando. Assim como assim, as pessoas vão comprar no site das marcas diretamente, portanto.
Diogo Pires 00:35:09 Há que fazer uma recall. A 15 minutos disseste que no primeiro ano facturar te cerca de 500.000 €.
Catarina Barreiros 00:35:17 Sim, sim, Não foi com estes produtos? Não, não. Portanto foi o primeiro ano. Calma, não foi de novembro e dezembro, não é. Foi. Foi no ano a seguir 2028. Mas sim, foi. Foi engraçado, portanto eu não. Como é óbvio que eu não fui uma coisa sexta feira. Só para tu teres uma ideia, eu não tinha pedido recolha automática para todos os dias porque eu disse quando fosse preciso pedir recolha. Eu penso nos sites dos correios, portanto uma vez por semana eu vou lá e digo olhem, eu já podem vir que já tenho umas contas para entregar, portanto não tinha sequer um método automático de recolha. Eu bem, enfim, não comecei negócios como eu comecei e pronto.
Catarina Barreiros 00:35:57 Portanto, obviamente que esses produtos não duraram poucas horas. Não, não, não, não foi, não foi. Sequer foi. Foi meio parvo achar outra coisa, mas eu acho que às vezes sou um bocadinho medrosa. Se calhar ou confio pouco, não sei. A Amadora, a minha sócia, a minha sócia da Ana, o pai dela disse vocês são amadoras porque nós produzimos poucas quantidades ao início e também esgotámos no instante. E pronto, Depois a loja começou a crescer. Passado três meses, portanto, estávamos todos fechados em casa. A minha, a minha cunhada era PT e estava em casa e então veio trabalhar connosco. Portanto na altura a loja estava no sótão, tinha que passar para a garagem porque já tinha muitas encomendas e tinha.
Diogo Pires 00:36:39 Mas existia um espaço físico dentro da tua casa e que tu designava as que aquilo. E a loja era uma secretária.
Catarina Barreiros 00:36:44 Uma prateleira, caixas por todo o lado que só enviava em caixas reutilizadas os detergentes mais as embalagens reutilizáveis.
Diogo Pires 00:36:52 Está a soar. Estamos a separar o início da Amazon.
Catarina Barreiros 00:36:55 Vai? Ok, nunca chegámos à dimensão da Amazon, certo?
Diogo Pires 00:37:00 Mas no início também era uma secretária. Sim, sim, acho que ainda é a mesma em que o Jeff Bezos trabalha hoje em casa, a mesma secretária de Madeira, uma espécie de garagem.
Catarina Barreiros 00:37:09 Sim, na verdade, sim. A maior parte dos negócios começa com uma pessoa à frente. Uma secretária não é o bater das portas. A verdade é que nós se calhar esquecemo nos disso. Mas. Mas é o que é. Eu tinha uma fotografia minha ao lado de uma prateleira que era a minha loja que queria. Era só isto. Só que eu acho que não soube gerir muito bem o crescimento rápido da loja e acho que isso foi um problema, porque para mim há coisas para mim que são fundamentais. Eu tenho a trabalhar comigo, tenho um contrato sem termo justo para os valores onde a pessoa está a trabalhar. Portanto, é logo um investimento grande. E quem tem gostos sabe que não é só investimento no salário. Se eu pagar um salário de 1.500 € A1000750, vai toda uma Segurança social e todo um IRS que é astronómico.
Catarina Barreiros 00:37:57 São 3000 e tal euros nesta brincadeira.
Diogo Pires 00:37:59 Estamos a falar quase de líquido. Não é líquido mas ainda assim bruto. Só chega ao trabalhador cerca de metade, quase.
Catarina Barreiros 00:38:07 No caso, não chegava a metade. Metade porque nós pagávamos. Para além disto, ainda subsídio de alimentação e férias e tudo mais. Algumas coisas que eram mais líquidas no caso de pessoas que vinham mais longe, havia efectivamente quilómetros, mas não fazíamos isto prática porque não tínhamos carro da empresa para toda a gente, portanto não mas mas.
Diogo Pires 00:38:24 Sim, mas sim, a carga é brutal, a carga é.
Catarina Barreiros 00:38:25 Brutal. Nós obviamente tentamos também que chegue o máximo possível para as pessoas, trabalham connosco, pagamos creches para tentar, para tentar que que as pessoas consigam ter o máximo de rendimento líquido possível. Mas há um limite. Aquilo que a lei nos permite fazer não é? Não é efetivamente, para um salário de 1750. Eu acho que talvez ela recebesse à volta as pessoas que foram, depois de trabalhar lá, que recebessem talvez 1300 com subsídios, portanto 1000 líquidos, provavelmente mais subsídios, Mas sim, mas não é uma carga muito grande e eu acho que acho que comecei a adicionar muitos produtos muito rapidamente, porque efetivamente eu tinha muitas sugestões de produtos que por eu não tinha.
Catarina Barreiros 00:39:07 Era inicialmente muito budget para começar uma loja com muitos produtos para depois também. Não, não, não comprava a construção. Eu não. Não acredito que seja um modelo de trabalho justo para ninguém, ou seja, comprar à consignação. Desculpa, existe mais ou menos generalizado no mundo, em Portugal, mas no mundo que comprar um produto e só pagar 30 dias depois e isso para mim não é uma forma justa de trabalhar com os nossos fornecedores, porque eles deixam de. Ter o ativo, que é o produto que está do nosso lado. Nós já o vendemos ao cliente e ainda não lhe pagamos. Não, não, não, Não faz muito sentido. Isso significava que havia um investimento muito grande da minha parte e esta foi uma grande questão. Até que tive com o João, o João Barra, em Finanças e Gestão, e ele dizia Catarina, nós temos esse prazo, existe para te dar tempo para vender o produto, é certo, mas assim o risco está a todo o lado do fornecedor. Não está do meu lado.
Catarina Barreiros 00:39:53 Quer dizer, isto não é injusto para ninguém. Isto foi uma coisa em que eu bati o pé e não.
Diogo Pires 00:39:57 Foi andando, andando, andando. Isto está tudo até em quem produz a matéria prima. Sim, sim, sim, absolutamente sempre.
Catarina Barreiros 00:40:03 Aí sim, sim, absolutamente. Ou seja, está de tal maneira generalizado e eu achava que não, que a nossa missão era pôr um travão nesta injustiça, não é? E é. Bati o pé até ao fim e, portanto, só mesmo no final. Finalzinho é que acabámos por ter de pagar algumas coisas para aí 15 dias mais tarde. E quando é final, finalzinho e já em liquidação da loja e portanto tudo isto era preciso dinheiro para investir e portanto eu comecei e de facto entrava dinheiro e eu investia, investia, investia sempre, porque lá está a loja para mim não era o meu projecto de ganha pão, para mim era para pagar. As pessoas trabalhavam comigo e para conseguir ir gerando alguma alguma mudança. Em retrospetiva, devia ter tido mais calma e ter mais calma.
Catarina Barreiros 00:40:45 Não devia ter lançado tantos produtos em simultâneo, mas depois tinha muitos salários para pagar. Tinha de trazer inovação. A inovação traz competitividade e eu não soube gerir aquilo da melhor maneira. Continuava a pagar salários e a pagar e a pagar a loja sempre. Mas estava. Estava a ser um sufoco, tal era acompanhar para estarmos sempre a crescer, que às tantas deixei de me identificar. Porque eu não acredito em crescimento infinito, não. Para mim há um livro ótimo que é a Economia Donald, que é sobre a prosperidade, tentarmos alcançar a prosperidade e não necessariamente o crescimento para sempre, porque há um limite. Tem de haver um limite, senão, nem que seja para aquilo que nós conseguimos. Às tantas, dar de nós estava a ser completamente incomportável e estava a fugir um bocadinho àquilo que eu achava que era o início da loja. Porque obviamente, numa empresa onde já somos sete pessoas, onde éramos sete pessoas na loja, já não era só a minha opinião que contava para o produto na loja, porque que estupidez seria se fosse só eu a decidir.
Catarina Barreiros 00:41:44 Mas às tantas, quando somos sete a dar opinião sobre sobre um produto, a colocar se temos tantos produtos e tantas coisas que nós perdemos o foco, perdemos completamente o foco. E depois eu acho que houve um timing certo para a loja. Nós estávamos em pandemia, estávamos fechados em casa, havia o comércio online, nós fazíamos, havia um serviço que nós fazíamos que era de entrega de detergentes a granel em embalagens reutilizáveis que mais nenhuma loja online fazia e neste momento continuam a não fazer. Mas as pessoas não podiam se deslocar a uma loja física para encher os 300 estavam fechadas. Pronto. Entretanto as lojas felizmente voltaram a abrir e houve aquilo entre estes dois anos em que tivemos a loja, houve aqui uma coisa muito importante que ainda bem que aconteceu. O grande retalho entrou na equação e, portanto, o grande retalho entrando na equação consegue consegue preço, que é uma coisa que eu não consigo. E este preço, claro. E este preço é bom também para os clientes, porque conseguem produtos mais baratos. Até é bom para o acesso e processo democrático a produtos mais sustentáveis, mas eu senti que nós já não éramos necessários.
Catarina Barreiros 00:42:44 Senti mesmo que nós estávamos desfocados e que já não éramos necessários e, portanto, sendo que nós tínhamos tantos projectos a acontecer e tínhamos um que ainda estava para lançar, que era enorme, que ia precisar de muito cuidado. Senti que o nosso foco principal não podia ser na loja e foi na cidade do zero e foi no podcast de vocês. É, foi enorme e foi no meu Instagram e sinceramente, acho que foi a melhor, a melhor decisão que tomamos. Foi muito difícil, foi muito, muito difícil. A decisão de fechar a loja foi Eu acompanhei isso. Foi muito complexo, mas foi a melhor decisão que podíamos, podíamos ter tomado.
Diogo Pires 00:43:16 Estás em paz com isso?
Catarina Barreiros 00:43:17 Hoje estou. Hoje só tenho muita pena ainda de não ter feito as coisas, de gerir as coisas da melhor maneira. Serviu para aprender, obviamente.
Diogo Pires 00:43:27 Sim, também convém contextualizar. Estamos a falar de uma coisa recente.
Catarina Barreiros 00:43:30 Sim, sim, sim, claro. Estamos a falar dela. Já acabou o final deste ano de 2023 foi quando fechou oficialmente.
Catarina Barreiros 00:43:37 Eu só estou em paz porque sinto que foi a melhor decisão. Mas eu sou muito perfeccionista e não, não gosto de sentir que. Que foi a melhor decisão, porque não tomem as decisões certas na altura certa. E falando da altura certa, teria sido logo no início da loja. Não pensei logo. A loja com uma estrutura a sério enorme, por exemplo, está a ser pensada como uma estrutura a sério e mas.
Diogo Pires 00:44:01 Sim como uma ótima aprendizagem para a.
Catarina Barreiros 00:44:03 Aprendizagem.
Diogo Pires 00:44:05 E lançar outros negócios. É verdade, é verdade mesmo. Bom, ainda sobre tudo aquilo que é o teu universo do zero, nós tenho tanta coisa, ainda que conversar contigo. Nós, nós temos que falar sobre a cidade do zero. O que é que nós já fomos passando aqui várias vezes pelo tema, Mas o que é que é a cidade do zero? Que evento é este?
Catarina Barreiros 00:44:25 Eu costumo dizer que a Cidade do Zero é um evento imersivo sobre como seria viver numa cidade pensada do zero para a sustentabilidade. Isto é, mais uma vez eu gosto assim de uma frase curta para explicar os projetos.
Catarina Barreiros 00:44:39 O Basicamente aquilo que eu quero replicar é a possibilidade que nós temos dentro daquilo que já existe no nosso mercado, na nossa cidadania, na nossa vida em sociedade que já existe em Portugal ao dia de hoje e que nos pode ajudar a fazer escolhas mais responsáveis no nosso dia a dia. Isso implica ter uma parte muito importante, que é uma parte que eu chamo a parte de educação, em que tivemos o ano passado mais de 100 palestras e workshops, onde temos cientistas cias, onde temos ativistas, onde temos ONGs a falarem um bocadinho dos seus projetos e de como é que nós podemos ajudar e o que é que nós podemos fazer, nem que seja aprendendo sobre os assuntos que que que trazem ali essas ONGs? Eu vou dar um exemplo de uma coisa que eu acho que serviu um propósito de aprendizagem coletiva. Nós tivemos na última cidade do zero um debate sobre se a energia nuclear seria uma boa opção para Portugal e tivemos convidados para esta sessão pessoas anti e pró energia nuclear que são especialistas nas suas áreas. Na área de energia.
Catarina Barreiros 00:45:45 Podemos, através do diálogo e da educação aprender e refletir esses esses ensinamentos, depois para a nossa vida, para o nosso dia a dia, nem que seja para o nosso voto, não é para afinal este partido é para o nuclear e este é contra. Estou mais a favor de um acordo com aquilo que já que já ouvi ou coisas mais pequenas de trabalho com as nossas juntas de freguesia, com o facto de termos tido, por exemplo, opções de mobilidade na cidade do zero, alternativas e organizações presentes na cidade do zero que nos ajudavam a perceber a necessidade da mobilidade suave e de como é que podia, como é que ela pode existir na sociedade faz com que se calhar mais facilmente vai ter como a Junta de Freguesia e diga olha, a ferrovia não está a ligar estes à nossa freguesia do lado. Está a parar ali porque temos de fazer pressão para as coisas acontecerem, não é? E depois usar essa ferrovia, né? Claro, claro. Portanto, foi no fundo é aprender. E depois temos, claro, uma componente mais prática, porque eu acredito, só teoria também não chega, até porque não chega para captar a atenção das pessoas.
Catarina Barreiros 00:46:48 É óbvio, não vai dar. É cansativo estarmos só a aprender. Para a maior parte das pessoas, embora eu tenha tido pessoas que tiveram literalmente os dois dias das 10h00 às 18h00 em palestras.
Diogo Pires 00:47:00 Seria uma dessas pessoas se tivesse visto o evento com tempo. Sim.
Catarina Barreiros 00:47:04 Ainda bem. Fico muito feliz. Ainda noutro dia descobri que uma rapariga que eu sigo nas redes sociais e comecei a seguir recentemente que ela esteve na cidade do zero e que foi precisamente o dia todo. E eu pensei bem, parecia que eu gostava dela cá das minhas. Mas também tivemos sessões mais práticas, por exemplo, oficinas de reparação de calçadas, aprender a reparar nas calçadas, oficinas de costura para aprendermos a fazer pequenas reparações, oficinas de reparação de eletrodomésticos pequenos tipo micro-ondas, máquinas de café, oficinas de reparação de bicicletas. Portanto, tivemos ali uma forte componente prática de aprendizagem e também para crianças.
Diogo Pires 00:47:39 E eu devia ter visto isso com mais tempo a ouvir. Agora descrever o que é que, o que é que foi feito em cada workshop.
Diogo Pires 00:47:47 Estou a lembrar me do sentimento de impotência que que me consome quando algo em casa se estraga e eu penso primeiro já não está na garantia, mas eu não vou mandar isto fora. Mas também não sei resolver.
Catarina Barreiros 00:48:05 E como todos nós, todos temos um bocadinho esse sentimento de impotência. E neste momento, a União Europeia também está a trabalhar para garantir que nós temos o chamado direito à reparação. Ou seja, estão a garantir que os fornecedores vão ter peças durante dez anos a garantir que fornecem instruções de como reparar em casa. Portanto, não, não vai dar para tudo, mas vai dar para muita coisa boa. Mas sim, nós tivemos um projecto de reparação. Na altura foi na zona do do Electrão que era para reparar precisamente pequenos electrodomésticos. Agora há uma coisa que aconteceu iniciados e nós neste ano vamos tentar abrir mais vagas. É que estes workshops esgotaram rapidíssimo, porque nós nestas sessões tínhamos um limite por dia, talvez de 30, 40 pessoas ou por sessão 30 ou 40 pessoas. E era e era.
Catarina Barreiros 00:48:52 Acaba por ser.
Diogo Pires 00:48:53 Encheu muito se tivesse 20.000 pessoas a atenderem ao evento.
Catarina Barreiros 00:48:57 Mas também temos a parte do mercado, não é? Já tivemos uma zona de troca de roupa, de troca de livros, de troca de bicicleta. Tivemos sempre a rodar, em que nós entregámos uma bicicleta para crianças de um tamanho para depois levarmos o tamanho a seguir, que foi interessante. Troca de plantas também tivemos de plantação.
Diogo Pires 00:49:12 Eu sinto que foi e por isso é que eu te pedi a ti para descrever o que é que foi a cidade do zero, o que é que é a cidade do zero. Porque eu sinto que é um mundo.
Catarina Barreiros 00:49:22 Sim, foi muito grande. Tivemos muitas marcas nacionais, foram 135 marcas nacionais. Também temos uma zona de mercado efetivamente. Imagina assim um pronto é uma mini cidade ao ar livre. Mas pensa Não, eu não gosto de usar a expressão centro comercial porque é muito só consumo. E ali não foi só consumo, mas tínhamos muitas marcas muito interessantes, portuguesas com opções efetivamente melhores. Tivemos restaurantes que vieram para o parque só para esse dia.
Catarina Barreiros 00:49:44 Os que tinham dentes que fecharam o restaurante durante a pandemia fizeram um restaurante para a cidade do zero. Isto foi assim um motivo de orgulho enorme para mim. Todos, todos os recipientes utilizados na cidade do Zero foram reutilizáveis e reutilizados. Todos eles tiveram uma taxa de reutilização e retorno de 100%. Não tivemos uns talheres descartáveis e nós levámos 20.000 pessoas. Portanto, eu gosto de pensar que que a cidade do zero é um bocadinho a prova de que quando se quer fazer, faz. É possível e possível. Para o ano estás lá.
Diogo Pires 00:50:14 Eu para o ano estou lá. Sem dúvida nenhuma. Há uma uma das perguntas que mais vezes me chegam, sobretudo dentro da comunidade do Manual de boas ideias de quem ouve. O podcast é esta Como é que chego a novos clientes? Como? Ou às vezes até como é que consigo o meu primeiro cliente? Para quem está a começar um evento pode ser uma boa porta de entrada para novos clientes, novas pessoas terem contacto com o teu negócio?
Catarina Barreiros 00:50:44 Absolutamente. Eu acho que às vezes nós pensamos em nós como se fôssemos nós o cliente ou os nossos amigos.
Catarina Barreiros 00:50:49 O cliente. Quando eu acho que nós temos de nos colocar precisamente nos sítios onde nós não vamos, porque aí não estão os nossos amigos. Ou seja, o que é que isso significa? O nosso primeiro cliente muito provavelmente vai ser um amigo, um familiar, um alguém que já nos conhece. No caso, como eu, já tinha uma comunidade com 100.000 pessoas, claro que os meus primeiros clientes foram foram os meus seguidores que já confiavam em mim desde a loja, desde as coisas que eu partilhando e com com os quais já tenho alguma relação. Aliás, é engraçado que eu via as encomendas a cair e eu reconheci.
Diogo Pires 00:51:19 Reconhecendo os.
Catarina Barreiros 00:51:20 Nomes, os nomes das pessoas com quem eu já falei. E eu sei que isto é assim meio estranho, mas há pessoas que eu sinto quase que já conheço e que iria, na boa tomar um café com elas. Não é engraçado Isso acontece? De certeza que os teus leitores não.
Diogo Pires 00:51:33 Não. Aliás, essa essa migração de ouvintes para não digo amigos, mas algo in between isso acontece.
Catarina Barreiros 00:51:41 Claro que eu já fui, já fui tomar café com pessoas que conheci, que eram meus seguidores há algum tempo e descobrimos que estávamos perto e pronto. E fomos. E por acaso ainda não fui tomar café com, mas com uma seguidora que se chama Catarina Barreiros e que morou durante muito tempo na minha rua. É muito engraçado, não é? E tínhamos combinado depois nunca chegámos a conseguir encontrar nos.
Diogo Pires 00:52:01 São vocês em áreas diferentes, em anos diferentes.
Catarina Barreiros 00:52:03 E nós temos uma amizade, portanto, não sei. Ok, é estranho, não é? Mas pronto, eu sou Barreiros, casada e, portanto, irmã perdida. Não há de ser. Mas. Mas eu acho que é bom pôr nos em sítios diferentes do nosso. Eu quando tive este reality check em duas situações. Obviamente que quando eu lanço a marca à partida, a maior parte dos meus seguidores começa logo a conhecer a marca, não é? Portanto, chega logo esse e esse público e fizemos um teste de uma parceria com uma influenciadora, com a Surrealista.
Catarina Barreiros 00:52:34 No caso, que não é. Eu não a conhecia antes desta parceria. Eu acho que se calhar tínhamos trocado duas palavras nas redes sociais, mas eu nunca conheci. Seja. Eu tenho um conjunto de amigas que é influenciadora digital e que trabalha no Instagram e, portanto, podia ter decidido começar por qualquer uma delas. Mas com as minhas sócias, decidimos ir precisamente a uma pessoa que não tivesse nada a ver comigo em termos de audiência, porque as minhas amigas, à partida eu já falo delas. Normalmente as pessoas que me seguem a mim já falam. Use elas também ou vice versa. Elas falam de mim. Temos seguidores em comum, de certeza. Claro que tenho amigas com muito mais seguidores do que eu, Mas, mas, mas é uma partilha que já existe e fizemos. Então com o registo tem um público alvo completamente diferente do meu. Ficou super bem porque chegámos a pessoas completamente diferentes. Às vezes é preciso pensar um bocadinho. Eu acho que ter sócios ajuda muito, porque nós chegámos a esta ideia, porque as minhas sócias e a Mariana que trabalha trabalha comigo, pensaram logo nela e eu pensei ok, não sei, mas gosto do trabalho, gosto do perfil, não conheço de lado nenhum, mas acho que pode ser interessante se elas estão aqui a primeira pessoa que se lembram quando vêm à cabeça de gostarem de trabalhar com ela seria a Bárbara.
Catarina Barreiros 00:53:41 Então bora tentar. Eu não pensaria em primeiro lugar, porque primeiro lugar, sei lá, penso nas pessoas com quem me dou mais, não é claro, e, portanto, é bom. Às vezes nós fazemos exercício E a segunda coisa e agora vamos ver como é que corre. Mas eu acho que vai correr bem nós. Uma das primeiras decisões que tomámos de marketing foi participar num evento que é o mercado da Stylista, que não é a cidade do zero, não, e portanto, é um evento muito diferente, que já existe há dez anos e que já marca muito o ritmo das marcas portuguesas. Conta já com uma fluência muito grandes, que é uma fluência que não é o nosso público, que estamos um bocado nervosos até. Muitas vezes estamos a ir porque é um público diferente, não é um público, vai a pensar na sustentabilidade, mas é um público que vai pensar nas marcas portuguesas e no design. E nós vamos perceber um bocadinho se também funcionamos para esse público. Agora, daquilo que nos chegou, também já temos chegado outras pessoas.
Catarina Barreiros 00:54:29 A verdade é que nós estamos à espera que possa correr muito bem por outra vertente que não a da sustentabilidade.
Diogo Pires 00:54:34 Mas talvez seja um bom ponto de conversa para te perguntar o que é Enorme.
Catarina Barreiros 00:54:38 Enorme. É uma marca que criei com as minhas duas sócias, que são a Ana e a Ana, que são irmãs, são de Guimarães. Elas tinham uma, tinham e têm uma marca, que é por Ana que utiliza a Let’s Talk para fazer produtos de têxtil lar. Tem de lençóis, toalhas de criança, toalhas de mesa, tudo isso. E conhecemo nos. Fizemos um clic imediato e fundamos a no meu nome é uma marca de cuecas menstruais. Isto é o que é um método de recolha menstrual que é reutilizável e que é mais confortável à partida. Para a maior parte das pessoas. Pelo menos é assim e os nossos clientes são muito satisfeitas para a recolha menstrual. Portanto, é tentar encontrar um produto reutilizável que não seja uma adição. Aquilo que possamos usar no nosso ciclo menstrual é apenas um produto que nós já usamos todos os dias.
Catarina Barreiros 00:55:24 Nós já usamos todos os dias roupa interior, estas. Esta roupa interior em particular simplesmente absorve e tem uma camada impermeável que impede que passe para a roupa, no caso o sangue. E já existem algumas marcas, mesmo portuguesas. Já existem marcas de cuecas menstruais que já existem e eu já usava. Mas aquilo que quando eu conheci a Ana e a Ana comentávamos era que eram sempre todas pretas e básicas e nós já muitas vezes não, não, não todas, mas muitas delas eram muito tipo fralda. Eu senti que estava usar uma fralda, aquilo não era Eu estava num dia de neura, como geralmente quando, quando, quando vem a menstruação para. Para muitas mulheres não para todas, Mas já é hormonalmente difícil e de repente ainda tinha de andar com uma coisa que é tipo uma fralda, que era para nem haver dúvidas que que naquele dia me estava a sentir uma miséria, não é? Então nós decidimos que íamos fazer umas que fossem lindas, discretas, confortáveis, que nos sentíssemos sexy, bonitas, que para nós era importante também.
Catarina Barreiros 00:56:22 Nesses dias ou especialmente nesses dias para nós, para estarmos, para estarmos a sentirmos bem connosco. E demorámos dois anos a desenvolver o produto. Porquê dois anos? Porque lá está, existe o motivo pelo qual a maior parte das cuecas menstruais era muito bullshit e muito grossa, tipo fralda, porque é muito difícil encontrar materiais que absorvam muito e que sejam fininhos. E não só é muito difícil, como é ainda mais difícil encontrar que sejam materiais com a mínima pegada ambiental possível. E mais difícil ainda é que consiga depois conseguir pegar em materiais que tenham a minha pegada ambiental e tenham uma performance espetacular a um preço que as duas consigam pagar. Então nós tivemos. Nós mudamos de fábrica, nós houve uma. Enfim, nós tínhamos já o protótipo quase final com uma fábrica. Estamos as cuecas. Nós decidimos que tínhamos de testar a sério, com muitas lavagens para garantir a usabilidade do produto. Testámos durante um ano. Ao final do ano já não estavam a absorver e mudámos de fábrica. Porque não íamos oferecer um produto reutilizável que só ia durar um ano e que ia deixar de absorver.
Catarina Barreiros 00:57:24 Então, como tínhamos mandado fazer, também tínhamos iniciado também o trabalho com a fábrica que temos hoje e tínhamos testado dois deles. Essas continuavam óptimas, então decidimos depois voltar a essa fábrica. Ok, então vocês ok.
Diogo Pires 00:57:36 Nós estamos a acompanhar a vossa história. Vocês testaram se dois produtos, dois foram diferentes.
Catarina Barreiros 00:57:43 O nosso protótipo tinha sido avançado só com uma fábrica, mas tínhamos testado as opções que a outra fábrica já tinha desenvolvido e continuávamos a testá las. Nós tínhamos budgets muito limitado, então é uma coisa que ajuda muito. No início, nós tínhamos basicamente um par de cuecas menstruais, todas as marcas do mercado e estávamos a testar tudo. A nível de conforto de elásticos. Nós já usávamos cólicas menstruais. Todas nós já usamos, elas já usam há quase sete anos. Eu uso a quatro, foi desde a gravidez da minha filha e a verdade é que eu acho que não há uma marca no mercado ou há poucas. Se calhar que nós não tínhamos testado e isso ajuda nos muito a perceber o comportamento dos tecidos, os problemas que existem com um modelo ou com outro.
Catarina Barreiros 00:58:26 Por exemplo, as nossas são mais cavadas porque as cólicas menstruais lá está nas costuras. Às vezes, por ficarem mais rígidas, podem criar alguma pressão que é desconfortável ou o sítio onde colocamos o elástico a fechar nas costas. Colocamos nas costas e não na lateral, porque na lateral temos experiência com algumas que magoam e que marcam. E eu cheguei a fazer sangue com umas na anca porque marcavam muito, ou os tamanhos que a maior parte das marcas como é que as menstruais têm também os muito apertados? É que é um bocadinho desconfortável nós estarmos a sentir nos completamente numa altura que já temos um bocadinho mais inchadas. Então nós preferimos dar uma folga nos nossos tamanhos e entretanto já vendemos tantas que também já temos muito feedback dos clientes. E agora para o segundo modelo já fizemos também um uma revisão daquilo que foram as coisas que eu nem posso dizer que correram mal, que nós fizemos para aí em 500 envios. Talvez cinco pessoas tenham trocado de tamanho, o que é 01h01, que é um rácio bastante bastante simpático.
Diogo Pires 00:59:19 É ótimo.
Catarina Barreiros 00:59:21 É bastante bom. Sim, é ótimo e não tivemos casos. Tivemos uma queixa que foi resolvida com a lavagem porque às vezes as instruções de lavagem são mais complicadas de entender.
Diogo Pires 00:59:33 Sobre isto que estávamos a falar. Vou deixar aqui uma recomendação de leitura. Há um livro ótimo sobre isto em seu nome Hacking Growth. Leiam sobre esta coisa de estarmos aquilo que vocês fizeram, o passo que vocês deram de testar dois fornecedores em simultâneo Hacking growth.
Catarina Barreiros 00:59:55 Nós ainda hoje fazemos muito, temos muito esta cultura dos testes. Nós temos neste momento vários modelos e várias práticas.
Diogo Pires 01:00:01 Isto aplica se a fornecedores, a clientes, a experiência com o cliente, tudo testing. É isso? Exatamente. Bom, ainda sobre enorme, tu publicaste 1 R$ recentemente a propósito do Dia Internacional da Mulher, em que fazes uma série de mitos e respondes a dúvidas que sobre o produto que vem na norma e sobre como é que as menstruais no geral, quais é que são os maiores desafios que enfrentamos hoje com a enorme?
Catarina Barreiros 01:00:29 Olha, houve uma coisa que aconteceu que me deixou assim um bocado chateada.
Catarina Barreiros 01:00:32 Nós fizemos o nosso lançamento e este é este. E este é um desafio muito chato de se lidar ainda no século XXI. Nós tivemos uma denúncia do nosso post no Instagram do lançamento da segunda coleção porque revelava nudez. Estamos a falar de nós na nossa campanha. Nós fizemos por ser muito elegante. Nós temos. Não é nada provocador? Podia ser, mas não é. Não é nada provocador, não é nada super sensual, não é uma coisa bonita, discreta, feminina, elegante. E tivemos denúncia porque eu acho que o corpo feminino continua a suscitar muito ódio e eu não percebo porquê, já que nós sabemos que esta é das coisas que mais que mais me deixa desconfortável. Parece que é difícil falar de menstruação, mas tu falaste a Soares, não é assim tão complicado, é mesmo uma secreção corporal, não é? Não é assim tão complicado. Sei lá, toda a gente faz xixi e a gente faz cocó, mas não gosta de admitir. Mas parece que a menstruação é vista como um tabu enorme e isto é meio estranho.
Catarina Barreiros 01:01:28 Nós estamos no século XXI, quer dizer, é só sangue, Toda a gente tem sangue no corpo. Não, não, não é assim. Então, acho que esta parte de desconstruir preconceitos é importante. E também é uma coisa que nós fizemos questão de fazer. Nós no nosso site temos uma secção de Frequently Ask Questions que é engraçado, que é uma das coisas que a maior parte das clientes nos diz, tipo Obrigada por terem posto aquilo em que pomos a nossa experiência pessoal com os nossos nomes, De quantas cuecas temos, como é que as lavamos, quais é que são, para que é que os usamos? Por exemplo, eu tive perdas urinárias a seguir a ser mãe. É muito comum, espirrava e fazia xixi. Era era muito, muito comum mesmo. Depois fisioterapia pélvica nunca ficou exactamente igual ao que estava antes, de antes de antes de ser mãe. E expliquei que também as como é que as menstruais podiam usar para isso. Eu lembro perfeitamente que foi uma mensagem. Uma seguidora minha a dizer Obrigada por teres dito isto e não tens vergonha.
Catarina Barreiros 01:02:21 Mas por que é que havia de ter vergonha? Quer dizer, isto acontece. A maior parte das pessoas depois de ter filhos. Não, não é uma infinidade. E é. Há muita vergonha de falar sobre estes temas. Nós recebemos muitas mensagens por WhatsApp com dúvidas que as pessoas não põem nas redes sociais ou quando põem, às vezes é um bocadinho melhor. Desculpem estar a perguntar, mas não sentem que fica cheiro na casa de banho quando guardam as cuecas com sangue? E esta é outra. É que todos os produtos descartáveis criaram uma mentira à volta da menstruação, que é do odor. Porque o que é que causa? E mais disso, tenho que fazer este disclaimer se alguém ficar sensibilizado com isto, está na hora de evoluirmos. O que é que? O que é que causa o odor relativo à menstruação ou a algum problema ginecológico? Efetivamente, isso pode ser visto em consulta, Não é isso. Nenhuma de nós pode ajudar com o nome ou o contacto do sangue com o plástico. Cuspo com as fibras plásticas dos pensos e dos tampões.
Catarina Barreiros 01:03:18 E onde é.
Diogo Pires 01:03:18 Que está a indústria.
Catarina Barreiros 01:03:20 Exactamente? Está a fazer isso? Ou seja, o que a maior parte das pessoas se calhar à partida vai, vai descobrir assim que passar para um método de recolha menstrual. Não. Não, Plástico, não descartável. Vai ser que afinal não há odores porque a maior parte deles diz mas não fica a cheirar porque como é que trocas fora de casa Até uma bolsa impermeável. Ponho as na bolsa impermeável e vou à minha vida, porque elas ficam lá dentro. E depois quando? Pois a bolsa na mala não fica a cheirar não, porque são cuecas menstruais, Não é um penso, não é um tampão. Portanto, esses sons, esses produtos é que fazem o odor. Não, não é o sangue em si, o sangue em si esteja cheira sangue, no máximo tem um odor levemente ferroso, mas que ainda assim não é por aí. E não é de todo, nem sempre de bolas, nem de, nem de perto nem de longe. Claro que.
Diogo Pires 01:04:04 Sim. Imaginem um corte. Exacto.
Catarina Barreiros 01:04:06 A pessoa não fica a cheirar mal, a mão não é limpa, limpa e o algodão que tirou também não fica a cheirar mal, certo? Pronto, é este e este e este. Este estigma à volta da menstruação é um estigma complicado e é engraçado porque o meu marido já vendeu imensas cuecas menstruais na vida. Nós tínhamos a loja, tínhamos marcas, cuecas menstruais e em mercados. Ela falava sobre isto e eu lembro me a vez de chegar ao pé dele. Está ele a falar com uma senhora e a dizer. Ainda bem que chegaste, Catarina, porque estava aqui a tentar explicar a questão dos fluxos e não estava se calhar a explicar tão bem como tu, porque tu há dias tens mais fluxo de turistas, menos fluxo, então não usas as mesmas, não é? E a senhora olhou assim para mim e disse eu Vocês falam assim tão abertamente sobre este assunto? Óbvio? E eu sei que para algumas clientes se calhar é desconfortável o meu marido falar tão abertamente sobre estes assuntos, mas é um assunto que todos devíamos estar a falar abertamente, porque quando uma criança se corta a médicas e a médicos, não é o sangue.
Catarina Barreiros 01:05:00 Não é um tema exclusivamente feminino nem exclusivamente masculino. É bom. Nós sabemos como é que funciona o corpo, seja feminino, seja masculino. É bom. Esta conversa está generalizada, não é? Claro que sim. E é engraçado. Há muito estigma volta disto. Se calhar o maior desafio é o medo de arriscar. Acho que muitas pessoas têm medo de arriscar trocar o método menstrual porque há muita vergonha associada à sujidade e se verte para as calças. E isso nota que custou. Consegue. Eu lembro me quando era mais nova que tive um episódio no autocarro para ir para casa. O autocarro demorou imenso tempo, muito mais do que era suposto. Estava imensa chuva. Eu estava a vir da faculdade para casa e eu levantei me para sair. Eu sabia que claramente estava. Estava. Tinha passado sangue nas calças. Na altura nem sabia o que eram cuecas menstruais, era um penso como outro qualquer. E houve uma senhora que veio atrás de mim, disse Minha querida, desculpe, mas é que está a sangrar.
Catarina Barreiros 01:05:48 Eu achei que era melhor dizer lhe. Eu avisei. Não há nada a fazer. Agora que tem, não posso fazer grande coisa. Era só um assunto. E claro, ninguém gosta de andar nem nem com uma mancha de xixi, nem com uma mancha de nada. Claro que é desagradável, mas temos todas tanto medo de que se note que estamos na menstruação, não é? E eu percebo. Mas um descuido pode acontecer como pensa. É como com umas cuecas menstruais.
Diogo Pires 01:06:12 Eu estava a ouvir falar e estava me a lembrar este fim de semana. Epá, coincidências. Nós estamos a gravar isto numa segunda feira. Há dois dias eu estive num centro comercial com a minha namorada e nós reparámos numa não quer chamar campanha num gesto que que eles estão a uma ação que estão a tomar? Em que? Nas No fundo, nas casas de banho femininas disponibilizam produtos de higiene natural? E a frase que que eles usaram? E eu vi aquilo enquanto estava a jantar e fiquei só. Uau! Ainda hoje, em 2024, uma em cada quatro mulheres não vai à escola porque.
Catarina Barreiros 01:07:00 Está a menstruar.
Diogo Pires 01:07:02 E porque não tem acesso a produtos de higiene.
Catarina Barreiros 01:07:04 Sim, os números são muito alarmantes em Portugal.
Diogo Pires 01:07:07 Sim, estamos a falar da realidade portuguesa hoje de 2024.
Catarina Barreiros 01:07:10 É muito importante e às vezes este tipo de políticas são vistas quase como ideológicas quando não há nada tão físico e tão factual como a menstruação, não é? E como não se escolher se menstruam ou não? Ninguém escolhe se menstruam ou não. E estes produtos são produtos geralmente muito caros. E é engraçado porque os produtos femininos nós não escolhemos ter de os usar e nós não escolhemos ter de ter de usar um penso, um tampão que seja. E há muitos países na Europa que já estão a distribuir gratuitamente estes produtos, incluindo produtos reutilizáveis. Portanto, os governos compram as marcas a um preço mais acessível e distribuem. E hoje nós temos de falar cada vez mais sobre isto, porque mesmo enquanto pequenos, eu lembro me. Quando comecei a ter menstruação, eu estava num grupo relativamente privilegiado na escola, que estava numa escola privada e, portanto era relativamente vigiado.
Catarina Barreiros 01:08:03 Mas depois também andava nos escuteiros e eu percebia e nos escuteiros, onde felizmente tenho amigos com mais, com menos, com comédia, com tudo. E eu lembro me perfeitamente de estares a falar com uma como amiga na altura que dizia não, mas eu uso o papel higiénico, vou trocando mais vezes e paciência. Eu pensava mas porquê? Qual é a necessidade? Efetivamente existe muita necessidade. E depois há comentários muito ignorantes quando vemos as redes sociais de notícias destas e de pessoas que dizem então mais um conjunto, um pé que custa tipo 3 € no Continente ou noutra marca branca do Pingo Doce ou doce, é certo. Mas quantos é que acham que as mulheres usam durante um ciclo? E se forem várias mulheres numa casa e levamos só a relembrar qual é o ordenado mínimo e o ordenado médio? Em Portugal? Não é assim tão óbvio que a maior parte das pessoas possa despender de 20 € por mês para produtos menstruais, não é mesmo assim tão óbvio? Então este é de facto um problema que nós temos de de endereçar de maneira, se calhar política.
Diogo Pires 01:09:07 Vamos falar de de empreendedorismo numa última secção do deste episódio. Eu começo por pôr por contextualizar. Ao longo da primeira temporada do Manual de Boas Ideias, eu fui recebendo dezenas de mensagens de feedback porque, como dizia, ainda agora vou constantemente pedindo que me dêem feedback das conversas, dos episódios, daquilo que que é o conhecimento que passamos aqui. E muitas dessas mensagens chegaram com histórias de quem tinha projectos que tinha na gaveta e que começou a tirá los da gaveta. E tantas outras mensagens chegaram também com a pergunta Por onde é que eu começo? O que é que. Qual é o primeiro passo aos primeiros passos que devo dar? E porque eu acredito que a minha resposta é muito. Pequena para a minha visão é muito redutora para para pensar como sendo uma norma que que não é isso que procuramos aqui, mas pelo menos vamos tentar nesta temporada do podcast dar resposta a esta questão de por onde é que começo com a visão de cada convidado, ok? E por isso tomei a liberdade de criar uma rubrica chamada Action Plans.
Diogo Pires 01:10:17 Por isso eu pergunto se tivesses de relançar os teus negócios do zero hoje, que passos é que davas?
Catarina Barreiros 01:10:25 Ok, deixa me só fazer um disclaimer que eu acho que tu provavelmente hás de ter muito mais conhecimento metódico sobre a resposta a isto do que cada um de nós individualmente, porque já entrevistasse muitas pessoas e portanto, tens uma visão muito global sobre o assunto e já leste muito sobre isto.
Diogo Pires 01:10:38 Também não revelo o quão egocêntrico pode ser esta rubrica.
Catarina Barreiros 01:10:41 Também não. Ok, ok, então eu fiz cábulas porque de facto tive de pensar um bocadinho nas section plans e não queria deixar assim nada de fora. Mas efetivamente o primeiro passo é traduzir para quem tem uma ideia na gaveta e ter uma ideia. Não é ter uma ideia, é ter uma boa ideia que vá ser desenvolvida, porque muitas vezes eu acho que vai acontecer a toda a gente que é assim meio idiota. Não é no bom sentido. Já aconteceu ter uma ideia que nunca tirou da gaveta e depois viu alguém a tirá la da gaveta, não é?
Diogo Pires 01:11:13 Bom dia.
Catarina Barreiros 01:11:14 Certo? Isto é normal porque as ideias todos nós conseguimos ter várias por dia, não é? O problema é desenvolver a ideia de maneira a conseguir dar a estrutura suficiente para ela chegar a ser um negócio pronto. E há vários modelos de negócios para as mesmas ideias. Por exemplo, os modelos de ter um closet partilhado. Já houve empresas a trazer, as empresas tinham um closet que depois alugavam outras, que é peer to peer, portanto que as pessoas alugavam a outras pessoas. Portanto, há outras que através de marcas que emprestam a pessoas e depois desenvolves um modelo de negócio para dar estrutura essa ideia vê se o que é que já correu bem, o que é que não correu bem e portanto monta se um negócio, sendo que a mim me parece muito importante esta fase de desenvolver um produto e um serviço que sejam genuinamente bons, que dêem ingenuamente genuinamente resposta a uma necessidade. Não é por acaso que nós tivemos dois anos na enorme e porque até ficar perfeito nós não íamos lançar e no outro dia estava a Mariana a mandar uma mensagem para o grupo.
Catarina Barreiros 01:12:11 A Mariana não é sócia, mas levar a empresa como se fosse dela e trabalha connosco há muito tempo. E ela diz É mesmo um orgulho trabalhar com enorme, porque as pessoas gostam mesmo do produto. Nós não temos praticamente nenhuma mensagem de pessoas que estejam sequer com alguma incerteza. E é muito gratificante porque demorámos muito tempo a devolver o produto e, portanto, essa parte é importante. Às vezes demora muito tempo, mas devolve lo bem, Claro que sim. A segunda, que eu acho que não é suficientemente falada, é escolher bem os nossos sócios. Eu juro que eu acho que isto é tão importante para quem quer ter uma empresa como escolher bem a pessoa com quem se passa a vida? Porque, ao contrário, é basicamente como o casamento. Se der porcaria, o divórcio é feio e perde se o nosso, o nosso bebé que andamos a desenvolver, né? Portanto, escolher bem os sócios. Eu tinha um nos inícios da loja do zero. Tive um mentor que era o Diogo Gouveia, que dizia que é para ser visto mesmo como um casamento e para ir em montes de sites, fazer montes de jantares, tirar todas as dúvidas e mais algumas.
Catarina Barreiros 01:13:16 E de facto, temos de confiar muito nas pessoas com quem com quem trabalhamos, porque senão é muito complicado estar a gerir o negócio em conjunto. Esta aqui não é tão falada, mas para quem vai ter sócios, escolher bem os sócios. Se houver alguma coisa que deixe a pessoa eventualmente de pé atrás ou se descortina até deixar de haver algum pé atrás ou não se avança é outra coisa. Na escolha de sócios que eu já tenho falado muito com o João e que acho que nunca falei até em podcast. E para mim. E eu gosto de ter sócios que dêem o mesmo valor ao dinheiro que eu dou. Ou seja, às vezes, para as empresas crescerem, sobretudo empresas precisam do crescimento rápido e de muito investimento. Pensa se num sócio como alguém que anda com muito capital. Por exemplo, se eu não tenho 100.000 € para investir numa empresa que nunca foi preciso tanto para investir numa empresa, eu nunca investi nas minhas empresas, tanto porque, lá está, não tinha sequer disponível. E não, não queria abrir a sociedade com alguém só para entrar como sócio capital.
Catarina Barreiros 01:14:14 Se deixe me recentrar. Se essa pessoa não der o mesmo valor que eu dou ao dinheiro, torna se um bocadinho complicado de gerir a empresa. Nós tomamos decisões em conjunto à escala do se gastamos 50 € aqui ou não. Noutro dia fomos comprar um espelho em segunda mão para o mercado a que vamos. E eu perguntei Acham que 40 € é muito elevado para este espelho, não é? Nossa empresa fatura bem. Nós. Nós já já recuperámos o nosso investimento inicial, que foi de algumas de alguns milhares, mas efetivamente damos o mesmo valor ao dinheiro quando estamos com alguém, seja o que que ela seja, De 50 € não é tão fácil, pelo menos para mim, que gosto de ter as coisas depois de ter aprendido com a dizer, Gosto de ter as coisas bem organizadas. Acho que é bom que os sócios dêem o mesmo valor ao dinheiro que nós. Ou então sou simplesmente sócio do capital e não e não entra na operação do dia a dia e tudo bem na mesma, não é não. Nem toda a gente estar super envolvida.
Catarina Barreiros 01:15:09 Portanto, a terceira coisa para mim é, desde o início, perceber quais é que são os valores essenciais para nós, enquanto empreendedores e enquanto empresa, e não abdicar, não arredar pé destes valores. Se o valor essencial é fair play, não arredar pé. Ah, mas não está a dar não. Não dá para pagar os ordenados que nós queríamos. Aumenta se o custo do produto ou pensa se numa estratégia de minimização de custos de marketing ou pensa se numa estratégia de redução de custos. Não sei, Mas se esse é um valor primordial, é para não arredar pé dele, porque depois à noite vamos dormir connosco próprios, não é? E esta é uma coisa que que eu acho fundamental e que, felizmente, eu mesmo em momentos difíceis da empresa, nunca, nunca abri mão destes valores, para mim são essenciais e hoje em dia agradeço mesmo muito, porque eu não teria conseguido manter tipo poker face nas redes sociais se não tivesse mantido estas esta todas estas noções que para mim são são essenciais. Portanto, desenvolver um produto, escolher bem sócios, não abdicar de valores essenciais à quarta, que é provavelmente as mais difíceis, é a de criar comunidade.
Catarina Barreiros 01:16:15 Esta é muito difícil, mas nós não queremos só clientes. Nós queremos uma comunidade de pessoas que se identifique com a marca, com o produto, com o serviço. Por exemplo, nós no Norte, neste momento, estamos a pensar desenvolver ações que nada têm a ver com a venda de produto, mas que efetivamente chama a atenção para o tema no qual estamos inseridos, que é o tema da menstruação. Portanto, criar comunidade, criar esta proximidade entre nós e as pessoas. Não é ao acaso que nós também pusemos lá os nossos nomes no dizer quantas cuecas usamos, como é que e os nossos métodos preferenciais? Como é que as lavamos? Nós queremos que as pessoas possam tirar estas dúvidas porque as pessoas sentem proximidade connosco. Para fazer estas perguntas e para conhecer esta parte mais quase íntima nossa. Então nós conseguimos começar a estabelecer um diálogo e como conhecemos, começamos a construir comunidade ou a maneira como nós escolhemos as nossas modelos de campanha. Nós escolhemos, por exemplo, as duas primeiras modelos. A Antónia e a Tainá trabalham em temas de sustentabilidade.
Catarina Barreiros 01:17:07 São mulheres com projetos próprios. Nós achamos muito interessante. Elas nem sequer são modelos. Ou não eram, não é? Mas para nós foi importante que a nossa marca em tudo representasse este nosso ideais e que nos ajudasse a construir esta comunidade. Agora para a última, trouxemos a marca e trouxemos Carmo Sousa, Lara e uma amiga nossa. Queremos que para conseguirmos construir esta comunidade que nos inspira, que podem inspirar outras pessoas. Quinta são só seis.
Diogo Pires 01:17:36 Tu quiseres.
Catarina Barreiros 01:17:36 Quinta testar. Esta é para mim muito importante testar marketing, testar pacotes de venda de produtos, testar shoppings, testar, testar. Trabalho com empresas não significa que vamos descartar fornecedores. Quando as coisas não correm bem, significa que vamos afinar às vezes o trabalho com eles ou significa que vamos tentar perceber o que é que funciona melhor com os outros. Vou dar um exemplo muito prático enorme. As nossas cuecas menstruais são feitas em fábrica especializada porque nós percebemos que era muito difícil dar a mesma qualidade de produto feita de maneira independente. Costureiras independentes é um produto muito técnico, muito específico.
Catarina Barreiros 01:18:10 Se um. Se um ponto da costura for impermeável, as cuecas começam a verter, ok. O impermeável ao lado da costura é muito técnico, mas o que nós conseguimos testar e correu bem, fazer as nossas bolsas impermeáveis de transporte e os nossos sacos da marca com costureiras independentes e como verdadeiros independentes. Então nós testamos os produtos para conseguirmos fazer o melhor produto possível, seguindo os nossos padrões. Criamos uma fábrica também com os nossos padrões de qualidade. Tem inclusivamente uma creche lá dentro para para para as mulheres poderem ir para a fábrica trabalhar E o trabalho de fábrica começa muito cedo e portanto, as crianças não têm creche, somente aberta essa hora e eles têm lá essa creche disponível. Portanto, é tentar ao máximo afinar, testar. Ao mesmo tempo que nós estamos a trabalhar estas bolsas com as costureiras, estamos a testar outros modelos de bolsas para ver se correm melhor, se conseguimos otimizar melhor a quantidade de tecido que utilizamos para não desperdiçar. Portanto, tudo isto é ir sempre testando mini coisas ao mesmo tempo. O markting é e é um teste constante.
Catarina Barreiros 01:19:08 Agora estamos a testar a imprensa, a seguir vamos continuar os testes de marketing de influência, depois vamos testar testes de mupi e vamos ter de ver o que é que funciona em cada momento, sendo que a resposta não vai ser sempre para sempre. Não é não. Nós, daquilo que descobrimos hoje, não vai funcionar para os próximos 20 anos. Se calhar, se funcionar para os próximos três meses, já não estamos mal.
Diogo Pires 01:19:25 Sim, a velocidade a que hoje as coisas, as coisas evoluem e mudam. Sim.
Catarina Barreiros 01:19:29 É verdade e pronto. E depois, a última que eu lamento imenso, que eu não gosto de romantizar o empreendedorismo é estar preparado para trabalhar muito, trabalhar muito a custo de nada, com muitas perdas de vida pessoal no início. E eu acho que se romantiza muito o empreendedorismo através das redes sociais. Com esta, com esta do agora, toda a gente consegue ficar milionário da noite para o dia, mas tem um custo pessoal muito grande mesmo. Significa que eu tenho um princípio em que eu não trabalho no apartamento em que a minha filha vem da escola.
Catarina Barreiros 01:20:03 Eu não trabalho para estar com ela, mas à noite, quando ela vai para a cama, muitas vezes tem que trabalhar sim. E só consegui fazer esta gestão de não trabalhar quando ela vai para a escola mais recentemente, porque decidi que não ia perder a vida dela, né? Portanto, e tem um custo, tem um custo de se trabalharmos com os nossos pela Swans, tem o custo de irmos jantar fora e falarmos de trabalho. Portanto, vem. Vem de facto com com, com muito sacrifício e portanto tem que a pessoa ou está preparada para trabalhar a sério, ou seja, uma pessoa que simplesmente quer estar um bocadinho na sua não quer ter muito. O empreendedorismo não é não e não é de todo, se calhar a escolha certa. Acho que é importante. Eu acho que não trabalho das nove às cinco. Eu teria uma vida muito mais calma do que tenho hoje. Não tenho a certeza, pois já tive um trabalho sabático. Vários até. Tenho uma vida muito mais calma do que tenho hoje em dia, menos feliz para mim.
Catarina Barreiros 01:20:54 Mas é porque eu tenho o bicho carpinteiro. Acho mesmo que não é para toda a gente, nem tem de ser para toda a gente. Isto não é. Eu não sou nem melhor nem pior do que alguém. Por isto, e para mim, acho que é preciso cada um conhecer se a si próprio.
Diogo Pires 01:21:07 Que bom que criámos esta rubrica.
Catarina Barreiros 01:21:12 Estás com ânimo para começar o teu projecto? Está na gaveta. Eu.
Diogo Pires 01:21:16 O meu, o meu maior, o meu maior impasse neste momento é o quão rapidamente eu tenho ideias e deixo me seduzir pela nova muito depressa. Quando ainda não.
Catarina Barreiros 01:21:30 Explorasse o suficiente outra vez, é dia de ir. Não sei. Não é por acaso. Não sei mesmo. Imagina uma pessoa que tem uma ideia, Depois hiperfoco nessa ideia e depois passa para o outro hiperfoco e depois passa para outro hiperfoco. Nessa pode? Pode. Pode. Pode ser só perguntar por curiosidade, porque a maior parte das pessoas empreendedoras, até.
Diogo Pires 01:21:49 Eu já, eu já já li sobre. Já procurei também saber mais.
Catarina Barreiros 01:21:55 Não, diagnóstico não sou.
Diogo Pires 01:21:56 Sim, sim, Sim, sim. Mas a certa altura também eu já me questionei sobre por que é que isto me acontece. Sim, eu sinto que isto. Entramos na terapia de repente.
Catarina Barreiros 01:22:07 É um espaço seguro.
Diogo Pires 01:22:09 Estamos só nós aqui também. Eu sinto que isto acontece por fases.
Catarina Barreiros 01:22:13 Sim, mas faz sentido também, não é? Eu tenho um livro só com ideias, portanto isto é uma.
Diogo Pires 01:22:19 Página no meu agora, só com ideias.
Catarina Barreiros 01:22:21 E olha, eu não tenho nenhuma ótima ferramenta para quem quer gerir negócios com equipas.
Diogo Pires 01:22:25 Eu acho que uma ótima ferramenta para tudo e tudo.
Catarina Barreiros 01:22:27 É assustador e muito versátil. Também acho, mas. Mas pega numa que achas que objetivamente que pode ser mais alinhada com aquilo de que tu gostas e mais fácil de implementar. Porque às vezes nós pensamos que é tudo tão difícil, que temos medo de nos atirar porque é super complicado. Se calhar vou dizer para não estás com muitas para não escolher uma com que entre no mercado farmacêutico, que é o mercado.
Catarina Barreiros 01:22:51 Eu já trabalhei no mercado farmacêutico. É muito complexo, é certo.
Diogo Pires 01:22:54 E era completamente ao lado daquilo que é o meu background, a minha backstory neste momento.
Catarina Barreiros 01:22:58 Mas imagina que até querias desenvolver um uma coisa qualquer que ajudasse as pessoas não estarem nervosas quando comunicavam ou que melhorar a sua dicção. Não sei uma coisa, qualquer que.
Diogo Pires 01:23:06 Fosse, já não me diz mais.
Catarina Barreiros 01:23:07 Nada não ver.
Diogo Pires 01:23:08 Mais. Já tenho dilemas suficientes com a quantidade de ideias que tenho, uma que.
Catarina Barreiros 01:23:13 Seja fácil de testar e depois de avançar avançou. Se não avançar, não avançou. Ou estas duas ou três.
Diogo Pires 01:23:18 Sim, acho que é isso que estou a fazer. Mas atenção que isto é recente. A reflexão que eu fiz para chegar a este ponto mental é recente. Há duas perguntas que eu te quero fazer antes de te deixar ir. A um autor do qual eu tenho dois livros em casa, um deles ainda não li esta e a outra eu não consigo acabar de ler livros.
Catarina Barreiros 01:23:42 Com o meu marido. Ele tem o livro do Obama para ler para ir a seis meses.
Diogo Pires 01:23:45 Ai eu nem me ponho a ler um livro tão grande quanto isso. Eu vejo um livro desses nas lojas e penso para quê? Eu não vou chegar ao terceiro capítulo.
Catarina Barreiros 01:23:53 Mas ele sabe que não vai, mas traz para casa na mesma. Ele gosta de os ter. Eu fico doida.
Diogo Pires 01:23:57 Sim, sim. A sensação é exactamente a mesma. Eu só não pego num livro, assim como a banca, Mas eu tenho lá dois livros de um autor que é o Daniel Priestley, que se auto denomina serial entrepreneur e que hoje em dia ajuda outros empreendedores a criarem os seus negócios. Ele tem uma citação ótima que sai de uma entrevista que ele deu a um youtuber liberal e diz isto mais ou menos entre os dez e os 13 anos. Há um momento em que tu descobres que és poderosa de forma independente, ou seja, sem a umbrela dos teus pais. Ok, entre os dez e os 13 anos, no fundo, no momento em que pensas uau, não sou apenas eu, usa a expressão another damn basket, uma criança qualquer e que a maioria dos empreendedores hoje faz o que faz para, de alguma forma, inconscientemente, voltar a esse lugar.
Diogo Pires 01:24:54 Qual é o ponto em que se viu entre algures entre os dez e os 13? Isto não é uma coisa estanque. Mas. Mas ele diz que a maioria das pessoas com quem se vai cruzando está nessa demanda por voltar a esse lugar. E eu sinto me encarregue de estar numa demanda para ver se isto se verifica. Consegues identificar esse momento para ti?
Catarina Barreiros 01:25:17 Quer dizer, você está pior que a minha psicóloga.
Diogo Pires 01:25:19 Achava que a primeira pergunta era DIP.
Catarina Barreiros 01:25:22 É que imagina. O problema é que eu consigo, sabes isto e eu também.
Diogo Pires 01:25:27 Por isso é que estou a tentar ver se Calma, Isto é uma caso muito feliz. Eu consigo identificar me com isto ou a mais, ou isto é mesmo verdade?
Catarina Barreiros 01:25:34 Que neura! Imagina, eu vou dar te um contexto. Eu tenho dois irmãos mais velhos, um deles tem paralisia cerebral e eu sou mais nova. Portanto eu vim quando eu nasci. O Pedro já já há. Já era uma realidade na vida da minha família, Portanto, já nasci sabendo que embora eu fosse um bebé, uma criança mais pequenina, que havia uma necessidade de atenção mais urgente ao meu irmão, que não conseguia comer sozinho, tomar banho sozinha, ir à casa de banho sozinho.
Catarina Barreiros 01:26:02 Pronto. É engraçado porque a minha mãe é meio, não é brincar, é sério. Diz que eu me criei um bocadinho sozinha, não é? Ela diz isto com algum orgulho e eu fico um bocadinho pena do meu pequenino. Confesso, porque efetivamente tive que ser rápido. Não, não tenho pena, porque fui muito feliz na mesma. Mas. Mas efetivamente há aquela. Fui muito responsável, muito cedo. E eu desde muito pequenina que comecei a fazer muito por mim, do género a resolver os problemas, ou seja, eu resolvia problemas. Eu desde menina que resolvia problemas. Na primária tinha um colega de turma que tinha uma deficiência e eu tive como auto missão imposta por mim para mim. Fui eu que decidi falar com a professora para para me auto propor a ajudá lo na escola e eu levei a minha missão de. Se houvesse alguém que lhe fizesse bullying no colégio, era uma miúda com alguns amigos. Ai de quem sequer tentasse falar mal, de fazer lhe mal. Portanto, e lava muito estas estas missões de justiceira sem capa.
Catarina Barreiros 01:27:06 É engraçado que eu comecei a sentir. É por volta da pré adolescência que comecei a sentir que eu tinha de fazer alguma coisa na minha vida. O que é muito curioso. Eu tocava piano, ainda toco, mas agora é por hobby e na altura não era por hobby, mas fazia. Fiz o conservatório, portanto, e era relativamente sério. Eu lembro me que nessa fase levei muito a sério o piano e fiquei muito impressionada nalguns concursos. Lembro me também que estava muito investida. Eu fazia piano e ballet numa escola de artes e estava muito investida em levar muito a sério esta esta vida mais a minha vida académica na escola era muito boa aluna, ou seja, tinha. Eu tinha de ser tipo excelente em tudo, porque o.
Diogo Pires 01:27:50 Teatro impunha se.
Catarina Barreiros 01:27:51 Isso eu até impunha, mas meus pais não. Zero. Os meus pais diziam mas de certeza que és feliz com tantas atividades. Não, não preferes aliviar um bocadinho a carga que tinha para te estudar? Já sabes, isso era meu, não? E eu é que sentia que eu era capaz.
Catarina Barreiros 01:28:05 Eu era capaz de fazer imensa coisa, de fazer imensa coisa bem feito e portanto, eu tinha obrigação de a fazer. Se eu era capaz, não é? E com dez anos, dez, dez ou 11, comecei a fazer colares de missangas para vender às amigas da minha mãe. Só que eu não fiz disto. Tipo olha um colarzinho, olha, mas alguém quer? Não, Eu fiz um catálogo de produtos com fotografias. Eu juntei dinheiro para uma máquina fotográfica de 100 € que na altura era imenso, com os primeiros, com os primeiros, com os primeiros colares que vendi para as minhas tias, Fiz, comprei uma máquina fotográfica, tirei as fotografias, perguntei à minha mãe se podia usar a impressora dela para fazer as fotocópias do meu catálogo e andei a distribuir os catálogos para fazer encomendas. Eu no Natal eu fazia 400 ou 500 € a vender colares. Eu era uma miúda mínima e eu com este dinheiro comprar, comprar as matérias primas para fazer os colares e dizia Não queres que eu te pague esse top? Não, Eu sou capaz de gerar o meu próprio.
Catarina Barreiros 01:29:01 Isto era isto, era meu pensamento, né? Eu tinha uma folha de dívidas em que punha se a minha mãe me pagasse alguma coisa de missangas para fazer os colares, eu punha na minha, na minha saída, na minha entrada de caixa, para depois a seguir voltar, tipo um balancete. São dez anos, portanto foi o início da minha veia empreendedora. Foi claramente na pré adolescência, mas. Mas assim claramente de longe, em que eu percebi que conseguia fazer cenas e depois, claro, os meus pais também eram muito encorajadores. E embora dissessem esta não é a tua obrigação, a única coisa que tens de fazer é estudar e está na escola. Eu ouvia os orgulhosos Esta miúda faz tudo. E isso também começou a criar muita pressão em mim. Então hoje em dia eu faço terapia por causa disto. Obrigada, pai, Obrigada mãe! Mas coitados, meus pais fizeram o que sabiam e fizeram muito bem. Mas efetivamente eu hei de saber em que é que tou a lixar a minha filha daqui a uns anos, né? E é engraçado as nossas vozes ali neste podcast.
Catarina Barreiros 01:29:57 E é engraçado porque de facto foi nessa altura que eu pensei tipo não tudo para a frente, o mundo é nosso, é muito, muito engraçado. Até foi nessa altura. Ai meu Deus, as coisas que eu me estou a lembrar. Diogo, Abriste uma caixa de Pandora. Eu Nessa altura eu. Eu achava isto ridículo. Eu achava que eu não devia receber uma mesada porque eu não fazia nada para além da minha obrigação. Como é que.
Diogo Pires 01:30:20 É? Peraí, como é que é?
Catarina Barreiros 01:30:21 Eu estava com 12 anos para eles. Meus pais davam uma mesada para porque eu lanchava na Escola de Música. Eu saía da escola e do autocarro para escola de música e lanchava lá. E eu recebia a mesada para poder lanchar e ver essas coisas. E eu não percebia porque é que eu recebia uma mesada para gerir quando eu não fazia mais do que a minha obrigação. Não é porque era estudar, é que era, Sei lá, eu tinha tudo dado em casa, não é? Eu estabeleci uma forma de pagamento com os meus pais, que se chamava Tecla.
Catarina Barreiros 01:30:49 Ok que era uma moeda. Minhas moedas eram as teclas em que eu me auto propus a uma lista de tarefas em casa para merecer as teclas que se convertiam na mesada. E se eu não fizesse as coisas em casa, então eu não tinha a mesada total. Mas se eu fizesse mais, eu ganhava um bocadinho a mais que podia usar para poupanças. Eu lembro me de minha mãe me dizer mas tu não precisas de fazer nada disto, Catarina Não está tudo bem. Quer dizer, tu faz a tua cama, arrumas as tuas coisas. Nós não temos de contabilizar as coisas que fazes em casa ou não, mas sim limpar as casas. Bem, eu ganhei mais cinco teclas, mas porquê? Mas por que é que queres isto? Portanto, isto foi na pré adolescência.
Diogo Pires 01:31:28 Quer dizer, tu agora estás com muito mais.
Catarina Barreiros 01:31:31 Aproximação, meu.
Diogo Pires 01:31:32 Deus, mas com muito mais distância do que do que na altura. Mas chegaram a alguma conclusão? Porque é que tu fazias isso?
Catarina Barreiros 01:31:38 Não sei, mas a minha aproximação com a minha psicóloga e de falar sobre o assunto e sim, efetivamente a tua.
Catarina Barreiros 01:31:43 Responsabilizei me desde muito cedo e isto também se verifica no NO. Se calhar na profissão que eu escolhi ter de de comunicar sustentabilidade, trabalhar em contabilidade. E basicamente eu acho que todos os problemas do mundo são meus para resolver. Não é que é uma estupidez, mas. Mas não sei. Eu acho que de alguma maneira foi. Se calhar não sei. É uma sensação minha de querer estar em controlo, porque há muita coisa que não controlava efetivamente. Depois o meu irmão mais velho teve uma adolescência ridiculamente difícil e Miguel, sabes que isto é verdade. Teve uma adolescência muito difícil e então eu queria não dar problemas aos meus pais, porque já havia situações difíceis o suficiente com os meus dois irmãos e queria mostrar lhes que eu era capaz de gerir as minhas coisas e de organizar a minha vida. Mas eu era mínima, eu era mínima e objectivamente. Uma miúda 12 anos não tem estar a pensar nestas coisas. Claro que há problemas muito maiores. Há crianças a ser bombardeadas neste momento, não é? Mas, efetivamente, olhando em retrospectiva, portanto, quis.
Catarina Barreiros 01:32:37 Quis colocar muita responsabilidade em mim muito cedo. Se calhar a minha veia empreendedora também vai dessa, desse excesso de responsabilidade que tive em pequenina. Não sei, talvez.
Diogo Pires 01:32:47 Olha, depois desta viagem que que te fiz fazer, eu vou te fazer a última pergunta que que é quase da praxe E o que é que dizem os teus olhos do manual de boas ideias? Mas que tem levado aqui a levantar questões muito interessantes? É uma questão onde eu te peço uma pergunta. A qual não quero ouvir a resposta. Ou seja, no fundo acreditando que a próxima pessoa que te entrevistar depois deste deste episódio sair, vai fazer um bom trabalho de campo e de pesquisa e vai ouvir este episódio todo na íntegra. E nós vamos ao longo do episódio, deixando sempre aqui algumas pistas de por onde é que podemos ir na próxima conversa. Que pergunta é que nunca te fizeram? Cuja resposta iria revelar uma parte de ti que tu gostavas que o mundo conhecesse?
Catarina Barreiros 01:33:37 Fizeram uma pergunta parecida num podcast, que era a pergunta que ficou por fazer, mas não foi.
Diogo Pires 01:33:43 Tiveste ideia, tás a ver?
Catarina Barreiros 01:33:44 Olha, foi o CEO do grupo, a Gears Portugal, que é uma pessoa espetacular. O Steven é uma pessoa muito, muito interessante mesmo que, mas que revela uma parte de mim que eu gostava que as pessoas conhecessem. Isto é para ser meio estranho, mas eu geralmente só revelo as partes que quero que as pessoas conheçam. Porque. Eu acho que nas redes sociais nós estamos sem controle.
Diogo Pires 01:34:05 É porque quer estar.
Catarina Barreiros 01:34:06 Sim, exato. É porque nas redes sociais e eu tenho algum medo da exposição em demasia. Eu nunca ponho o jantar de amigos. Nunca. Ninguém sabe quem são os meus amigos mais próximos. Ninguém sabe, não é? Eu faço a minha vida pessoal de maneira muito pessoal, embora exponha muito muitas das minhas convicções nas redes sociais. Mas eu acho que é uma coisa, se calhar uma pergunta. Se eu pudesse ter qualquer profissão no mundo? E se o dinheiro não fosse um objetivo, se esta seria a profissão que eu teria encantado?
Diogo Pires 01:34:38 Eu estou a arranjar motivos para sair destas entrevistas frustrado porque depois as perguntas são ótimas.
Diogo Pires 01:34:44 Eu quero ouvir respostas, mas eu já disse que não as não as vou lançar de volta, portanto vou cumprir com a minha. Está bem, mas eu queria ouvir a tua resposta. Mas agora não.
Catarina Barreiros 01:34:53 Agora, não agora. Porque não vai dar.
Diogo Pires 01:34:55 Catarina, muito obrigada, Obrigada, Obrigada por esta conversa.
Catarina Barreiros 01:34:58 Adorei também.
Catarina Barreiros 01:34:59 Obrigada pelo manual de boas ideias. Que tal?
Diogo Pires 01:35:04 Gostaram, seus guerreiros? Não é sério? Ouviram 01h30 de conversa? Soubessem vocês o pânico com que eu fiquei ali a meio do episódio, quando reparei que já tínhamos 40 e tal minutos de gravação e ainda não tinha sequer falado de metade daquilo que tinha rascunhado no meu papelinho para conversar com a Catarina. Bom, mas as boas conversas são assim, não é verdade? Perdemos a noção do tempo se ainda não subscrevem o manual de boas ideias. Ora aqui está uma óptima altura para fazerem Subscrevam o podcast na aplicação que escolheram para ouvir este episódio, seja Spotify ou podcasts. Eu podia continuar a enumerá las porque na verdade eu acho que estamos em todas as plataformas de podcasts, mas o que interessa é que subscrevam para não perderem os próximos episódios.
Diogo Pires 01:35:47 Há muito boas ideias a caminho do manual nesta temporada. Na próxima sexta feira, a novo episódio, novo solo. Por isso, até lá.