Diogo Pires 00:00:00
Antes de avançarmos, subscreve o manual de boas ideias aqui mesmo na plataforma onde escolheres de ouvir este episódio. Assim serás notificado do lançamento de novos episódios e sem querer, fazes com que o manual chegue a ainda mais pessoas. Bem vindos a um novo episódio do Manual de Boas Ideias. Eu sou o Diogo Pires e se estavam a precisar de relaxar. Bem vindos ao episódio certo para o fazerem enquanto são presenteados com questões sobre empreendedorismo e rasgos de coragem. Esta é a melhor forma de descrever a conversa com o Pedro Freitas. O meu convidado de hoje no manual. O Pedro é poeta. Aliás, ele assina mesmo como o poeta da cidade. Tem uma fanbase nas redes sociais que, somados os números do Instagram e tic tac, dão lhe para cima de 212.000 seguidores à data de hoje. Seguidores que o acompanham nas suas leituras de poesia à frente da Câmara e também na sua jornada enquanto empreendedor. Isto porque decidiu lançar o seu primeiro livro de forma independente. Depois de se ter recusado a aceitar as regras da indústria livreira.
Diogo Pires 00:01:04
Sem querer, pôs no mercado o livro que fez dele o poeta português mais vendido em Portugal em 2022 e 2023. Tem 25 anos. Deixem se inspirar pela história do Pedro. Pedro, Muito bem vindo ao manual de boas ideias. Tu descreves te como freelancer na área da palavra dita. Eu adorei esta descrição. No que é que isto consiste?
Pedro Freitas 00:01:27
Freelancer na área da palavra dita, tenho missão no LinkedIn. Tenho visto algures numa das duas redes sociais ser. Assim freelancer na área da palavra dita, foi a forma mais embelezada que eu arranjei de dizer às pessoas que aquilo que eu faço é dizer poesia e e poemas e textos, porque grande parte do meu percurso eu comecei a dizer poesia muito, muito jovem, Tinha 16, 16, 17 anos. E quando me perguntavam Pedro, então o que é que tu fazes? Eu. Digo poesia, dizes poemas, dizes coisas. E eu sim, digo as pessoas nunca levaram muito a sério. E eu entendo. Não temos necessariamente jovens a dizer aquilo que o que O seu maior sonho é ir para o São Luís dizer poesia.
Pedro Freitas 00:02:26
E, portanto, aqui o freelancer não é a palavra dita. Foi a minha, foi a forma que eu arranjei no LinkedIn. Que é que é assim? Uma Uma rede social um bocadinho mais séria, de mostrar às pessoas que primeiro trabalho com a voz e ainda não faço aquilo que tu fazes, mas é uma das e é um dos meus objetivos trabalhar com a voz não só nesta parte performática e de leitura de poemas, mas também para publicidade e não sei se fazes desenhos animados ou não.
Diogo Pires 00:02:58
Mas gostava e tenho medo. A sério. É daquelas coisas que eu gostava, gostava de experimentar, mas tenho muito. Primeiro, tenho muito respeito por quem o faz e sinto que ainda não estou lá.
Pedro Freitas 00:03:10
Ainda não. Tu não estás lá. Eu ainda mais longe estou. Mas são duas as.
Diogo Pires 00:03:16
Skills que tens e que tens adquirido ao longo deste tempo a dizer poesia. Acredito que te sejam muito úteis nessa. Nessa vertente, talvez tenhas mais skills nessa área do.
Pedro Freitas 00:03:26
Que são úteis, mas é a mesma questão que toda a gente me faz relativamente à representação que é Eu não tenho qualquer problema em ir para palco dizer poesia, pelo contrário, acho que me sinto em casa.
Pedro Freitas 00:03:41
E quando me perguntam Pedro I, nunca pensaste em teatro? Nunca pensaste em fazer algo na área da representação? Não é uma razão muito, não por uma razão muito simples. Que é que o medo do ridículo não tenho muito. Tal e qual, tenho muito problema em colocar me nessa posição e mesmo estas habilidades que o dizem, a poesia me da não me não, não me fazem ultrapassar a ultrapassar a que o medo do ridículo quando se trabalha mesmo só com a voz eu faço. Já fiz vários workshops, estou em alguns bancos de voz, mas é sempre aquela coisa de. Pedro, despe te um bocadinho, larga aí o medo e dá te. Dá o corpo às balas e eu tenho é uma barreira que eu ainda tenho de ultrapassar. Mas eu acho que tu. És mais talentoso do que eu no que toca a voz e a alma. Chega a um ponto em que o talento ultrapassa o medo. Sabes? Então tu tens tanto, tens tanto talento que o facto de teres medo é quase irrelevante.
Pedro Freitas 00:04:57
Ok, é o que tu vais fazer. Vai ser bem feito, percebes? É que o meu problema é. Acho que sou bom e tenho talento, mas não sei se está ao ponto de ultrapassar o medo que tenho de de, de ser, de me, de. De ser ridículo, Mas ser bom ao ponto do ridículo tornar se algo diferente. Sabes, percebo.
Diogo Pires 00:05:22
Vou te confessar que todos os dias em que tenho sessões de gravação de anúncios, spots, o que seja, e são gravações assistidas, seja remotamente ou porque vou a um estúdio, está lá quase a empresa toda, pelo menos o departamento de marketing da marca para quem vou gravar. Já vi.
Pedro Freitas 00:05:38
TIC tac e.
Diogo Pires 00:05:39
Pronto. Exactamente nessas situações em que tenho sempre alguém a ouvir. Também tenho esse receio. Eu não penso muito nisso, no talento que eventualmente possa ter para para entregar aquilo que esperam de mim. Eu acho que aquilo que me passa pela cabeça no momento em que em que entro primeiro eu visto uma personagem, eu viro bicho social que não sou.
Diogo Pires 00:06:00
Tento trazer as pessoas todas para o meu lado e eu acho que isso aí é meio caminho andado para que a coisa que.
Pedro Freitas 00:06:06
Já é o primeiro passo corra.
Diogo Pires 00:06:07
Bem. Pelo menos o técnico do estúdio eu puxo para o meu lado, pelo menos, mas porque é a pessoa que vai estar ali a trabalhar, a trabalhar a minha voz comigo. Mas, essencialmente, eu acho que aquilo que me passa pela cabeça para ficar mais confortável é pensar naquilo que já fiz e pensar também nas nos ensinamentos que trouxe das várias formações e workshops que fiz. Por isso é que eu tenho a dizer que que a parte inicial e fundamental de do caminho, aquela que te dá segurança, tu estás a fazê la. Se dizes que estás a ter formações em workshops e tudo mais. Acho que essa pelo menos é a parte da jornada que me dá segurança quando eu entro na cabine.
Pedro Freitas 00:06:49
Mas Vamos fazer sempre o síndrome do impostor. E nós? Nós que para todos os efeitos, trabalhamos com a voz e clique, damos valor a pessoas que o fazem bem.
Pedro Freitas 00:07:00
Quer dizer, eu. Eu nunca na minha vida vou ser um Cumberbatch, não é? E para mim é. Ou se é tão bom como como Cumberbatch. Ou então mais vale não fazer. Eu sei que se calhar não é a forma mais saudável de ver aqui o caminho, mas. Mas ao mesmo tempo é uma motivação para trabalhar, para ser tão bom ou igual ou melhor que que aqueles que eu, que eu tenho como grandes pessoas que trabalham com a voz.
Diogo Pires 00:07:36
Se há algum conselho que eu te posso dar neste momento é esse de. Tentar fazer com que embarque na tua jangada toda. Todo o conhecimento que que te possa trazer segurança. Porque na verdade é isso o que tu vais entregar. Tu já tens dentro de ti. Nós precisamos é de perceber como onde é que temos de ir, que campainhas é que temos de tocar para para tirar dentro de nós aquilo que os outros esperam. E quando entras no estúdio, tenta trazer as pessoas todas para o teu lado. Isso comigo resulta.
Pedro Freitas 00:08:05
Pois é isso.
Pedro Freitas 00:08:06
Mas isso para mim também acho que é o mais fácil. Exato. Exato. Eu é que eu passo do medo.
Diogo Pires 00:08:12
Olha, mas é muito curioso que que nós nos tenhamos conhecido aos dois pelo pelo Tic-Tac, eu conhecido também pelo pelo TIC TAC, onde tu és um misto de Pedro, diseur de poesia e Pedro, autor independente que está a documentar a sua jornada na publicação deste livro, ela metafisicamente de outro mundo. E foi exactamente num destes vídeos que que eu te que eu te conheci, num dos vídeos em que mostras como é que é o processo de, enfim, todo o processo que envolve.
Pedro Freitas 00:08:45
Fazer um livro, fazer.
Diogo Pires 00:08:46
Um livro e no caso, trabalhar o negócio. Depois de de o teres de teres composto a obra, Eu gostava que explorasse mais um bocadinho este este lado. Antes de mais nada. Por que é que te lançaste como autor independente em vez de estares sob a umbrella de uma editora?
Pedro Freitas 00:09:03
Portanto, essa obra. Estava pensada já há largos anos. É uma obra inspirada numa relação que tive de seis anos e depois, quando a relação eventualmente acabou, eu tinha já um produto não finalizado, mas um produto.
Pedro Freitas 00:09:25
Digamos para tudo, para todos os efeitos, bem composto. E. E pensei bem, Pedro, tu, tu queres escrever um livro? Era uma coisa que eu já tinha na cabeça há algum tempo. Vai te ajudar tanto na tua, na tua Viagem pelo mundo performático da poesia. Mas também vai te colocar aqui, talvez um bocadinho mais. Vai te dar um bocadinho mais de credibilidade junto da intelectualidade académica da Academia portuguesa. E portanto, eu propus me, em 2021, a finalizar o livro, escrever o que tinha acabado de escrever, pensar nas estratégias que queria pensar e fui à busca de duas ou três editoras com as quais já tinha falado antes, quando passei pelo Got Talent, mas que cuja resposta na altura foi Pedro, a poesia não vende e portanto não quer escrever antes um romance. E eu? Eu até cheguei a tentar, mas não, não era bom e portanto desisti da ideia. E nesta altura eu voltei em 2021 a falar com algumas dessas editoras. Algumas voltaram me a dizer exactamente a mesma coisa.
Pedro Freitas 00:10:44
que a poesia não vende e portanto eu pensei tens duas formas de fazer isto ou. Consegues uma editora independente, um bocadinho mais pequena e. Para tirar o peso de cima das minhas costas colocas essa. Incute se essa responsabilidade a uma ou outra entidade. Ou então Pedro. Vais tu, descobres o que é que tens de fazer? Descobres com quem é que tens de falar ou que processos é que e que levam a que um livro esteja finalizado e. E colocas te tu no mercado. E aquilo que eu isto na altura e agora? Agora é ingrato porque acho muito. São poucas as pessoas que conhecem esse Pedro da altura. Agora olham para o meu Instagram. Tenho quase 70.000 seguidores, olham para o meu tictac, tenho quase 140.000, mas na altura, em Agosto Outubro de 2021, tinha 5000 seguidores no Instagram e tinha alguns milhares no tictac. Mas no tictac é quase irrelevante porque o algoritmo é tão e tão. Lembro me do Fairy Dust. O algoritmo podes ter 300.000 seguidores, metes um vídeo, tens 5000 views e aquilo não mostra aos teus seguidores os teus vídeos.
Pedro Freitas 00:12:15
Portanto, eu nunca, nunca, nunca me senti de costas quentes perante perante o tic tac de pensar Ok, eu posso largar, posso fazer aquilo que quiser porque sei que vou ter cento e não sei quantos 1000 seguidores prontos a comprar. Foi, foi sempre, sempre. Olhei para o tictac como uma boa, uma boa base de promoção pessoal e portanto, Agosto, Outubro, Eu gosto de setembro, tenho 5000 seguidores. Proponho me muito bem enviar orçamentos para gráficas. O que é que eu preciso? O que é que Como é que? Em que? Em que tirei? Tirei alguns cursos no YouTube de edição. Que programas é que precisas para para editar o livro Adobe InDesign, Baixar o Adobe InDesign, Aprender a fazer os bem, Tudo aquilo que se trata do miolo da edição, da paginação. E eu, em finais de Outubro, inícios de Novembro, tinha já em termos de materiais, tudo comigo e tinha já recebido algumas propostas de alguns orçamentos de editoras e fiquei ali um pouco a basílico, porque preços exorbitantes, Habitantes por uma razão também que é daquelas coisas que tu fazes sozinho, não sabes? E a primeira vez são os erros que se comete.
Pedro Freitas 00:13:45
O meu. Esse livro tem seis ilustrações feitas pela Anna Yael, uma artista argentina que vive em Barcelona. Brilhante, uma das uma das ilustradoras mais, mais e mais fascinantes e talentosas que eu, que eu conheço e que descobri durante a pandemia. Fez uma capa para ela. E tem uma coisa assim Brilhante, Ana. Eu pedi lhe faz me a capa e seis ilustrações. Não peguei, claro, mas pedi faz, Faz uma capa e seis ilustrações e pedi lhe a cor porque pensava bem, isto é um livro, não é preto e branco, tudo menos estas seis. São só seis. Não há de ser assim grande. O que é que acontece? Acontece que, Como eu não junto todas as ilustrações num pequeno caderno. Esses são os livros. São feitos em caderninhos de 16 páginas ou oito páginas ou coisa assim. Se juntasse todos numa, eu conseguia fazer com que todo o livro fosse impresso a preto e branco. Porque de facto é só palavras na folha e depois essas páginas fossem fossem impressas a cores.
Pedro Freitas 00:15:00
Aquilo que aconteceu foi eu tive de espalhar os desenhos pelo pelo livro porque fazia me sentido juntar os desenhos com os poemas que eles inspiraram e de repente tive em primeiro o livro todo a cores. E pronto, estamos a falar de um livro que é preto e branco. No fundo, 95% do livro é preto e branco, mas que está impresso como se fosse a cores. Pronto, isso é assim.
Diogo Pires 00:15:27
Cresceu muito, tanto.
Pedro Freitas 00:15:29
Para ir, para ir para o dobro, quase. Mas eu recebi esses orçamentos das gráficas e de repente vi me numa posição de eu não tenho dinheiro para isto. Estamos a falar em valores acima de 1500, quase 2.000 €. Para quantos? 600 foi a primeira edição? Foi seis anos depois. Essa era outra que o Pedro. Quando é que mandou fazer?
Diogo Pires 00:15:54
É sempre muito ingrato também quando se está a começar e não tem muita emoção.
Pedro Freitas 00:15:57
Não é isso.
Diogo Pires 00:15:58
A atração que tenho.
Pedro Freitas 00:15:59
É que eu já tenho alguma comunidade no Tic-Tac e tenho muitos amigos e 5000 seguidores no Instagram.
Pedro Freitas 00:16:07
Mas mais uma vez feridas até tu saberes que consegues vender alguma coisa. Tu não sabes a quantas pessoas é que consegues fazer. E eu lembro me de uma altura em que perguntei também por Outubro Novembro aos meus amigos mais chegados Malta, quantos livros é que eu vou vender nas primeiras 24 horas? Eu já há uns uns 15. mas a família conta não para aí uns dez e eu preciso de amigos novos. Não estou a entender o que está a passar aqui, portanto. Mas honestidade não lhes faltou. Não, não lhes faltou. E eu entendo. Quer dizer, vocês estão aqui para manter com os pés assentes no chão e até hoje o fazem. E eu estou muito, muito, muito agradecido por isso. Mas na altura, em quantos livros é que eu mandei fazer tudo isto pesava? Que é quanto isso é que eu vou conseguir. De facto, vender aquilo que não falta são é quase um modelo de negócio. Os livros que não são vendidos depois são abatidos e devolve se o dinheiro do IVA.
Pedro Freitas 00:17:19
E a questão das editoras é toda uma outra questão e eu não queria que isso acontecesse. Eu quero fazer um livro, não quero abater nenhum livro, quero vendê lo às pessoas. E foi um salto de fé. Os 600, pensei Epá. 300 é a diferença entre 300 e 600. Não era assim tão significativa para eu não ir para o 600, claro. E eu Ok, vou mandar fazer 600 e depois falei com o meu. Ele é quase meu sócio nesta festa, neste empreendimento. A especialista em marketing digital na horta. O Bernardo é um gajo que sabe muito, sabe? Ele trabalha ecommerce, trabalha SEO, uma pessoa muito sabida na área e eu pedi lhe ajuda. Bernardo Olha, quero fazer isto muito dificilmente vou colocar os meus livros nos meios de distribuição normais, Continente e Fnac, porque são meios que tiram entre 50A60A 70% do valor do livro. De repente eu estava ia pagar para ter o livro lá. O que é que eu posso fazer? E ele Olha, vamos criar uma página no Shopify, Pode ter decido.
Pedro Freitas 00:18:27
Aponto como E tu vais vender o livro de lá. Muito bem, foi isso que fizemos. Página Shopify. Tratar tudo, fotografias, tudo feito e no dia 4 de dezembro eu anuncio que vou lançar o livro. E que no dia seguinte vou abrir a pré venda. E isto no Instagram e no Tic-Tac.
Diogo Pires 00:18:55
Na data tinhas 5000 seguidores no.
Pedro Freitas 00:18:57
Instagram e tinha eu quero dizer, 100.000 no tictac, mas como estou pronto mais uma vez, não quer dizer necessariamente 100.000 no tictac e diferente de 100.000 no Instagram. E eu anuncio e nas primeiras 24 horas faço o dinheiro total da edição. E trabalho. E de repente vejo me assim. Quer dizer, uau, muito bem que a maior parte são amigos e e Na família também. Mas muitos também são pessoas que me vêm a acompanhar ao longo de cinco ou seis anos de estudo, de poesia e de estar no mercado a colocar me como alguém que tem como a palavra dita e a palavra escrita um marco da sua vida. E eu encarei aquilo como uma aposta.
Pedro Freitas 00:19:54
As pessoas estão a apostar em mim muito bem. Eu fiz a pré venda durante um mês porque depois foi toda uma confusão. Isto foi final de 2021 de dezembro. De repente acabou o papel. Não havia papel porque houve uma sorte.
Diogo Pires 00:20:10
Como assim acabou o papel?
Pedro Freitas 00:20:11
Não houve uma charters de papel mundial na altura, houve uma crise grave de papel e, portanto, eu mandei fazer o meu livro em dezembro e eu só tive 25 de janeiro, que é muito tempo. De repente, como é que repente passou quase um mês e meio e eu tinha 400 livros vendidos. Dos 600 que mandei fazer e já tinha pessoas que me compraram o livro em dezembro. Então eu li o livro. E de repente parecia ali quase uma fraude. Eu tenho a noção disso porque também foi na altura das fraldas, dos youtubers, das fraldas, dos cursos. E eu tive muito esse feedback também dos dos dos miúdos, dos jovens do género a minha mãe não quer comprar, tem medo que isto seja uma fraude. Mas eu fui tentando assegurar às pessoas de que não, a culpa não é minha.
Pedro Freitas 00:21:04
Estou mesmo uma crise de papel mundial, mas o livro está já a ser feito, a ser produzido e portanto, em finais de Janeiro temos o livro. Tenho o livro comigo. E assim foi. No final de Janeiro enviaram me o livro Os 600 exemplares. Primeiro dia fiquei sem 400 e depois vendi os os restantes 200 em Quer dizer, duas semanas. Tive de mandar fazer a segunda edição logo em Fevereiro outra vez e pronto. Depois a segunda edição já foi, já foi de 1000 exemplares e tem sido de 1000 exemplares recorrentemente.
Diogo Pires 00:21:39
No meio de tudo isto, nós falamos aqui. Aliás, estava aqui a acompanhar o teu, o teu discurso e há várias coisas aí que que tu disseste e que não quero deixar passar sem, sem que falemos delas. Uma delas sendo o facto de o ponto de venda a loja que vende o livro ficar com uma fatia tão grande da obra. O que é que está a falhar na indústria livreira?
Pedro Freitas 00:22:06
Para ti não é falha. Sabes como é, como um monstro, como é um resultado e um produto do mercado, é e não é necessariamente, mas ainda não é necessariamente.
Pedro Freitas 00:22:22
O mercado está feito para. Como é que se chama? Eu sou péssimo com números e péssimo com teoria económica. É o que diz a teoria de Pareto. É isto? Não sei, não me lembro. Mas e aquela? E aquela teoria? E aquela teoria de que, por exemplo, 20% dos escritores vendem 80% dos livros? E isto acontece transversalmente a tudo. 20% dos trabalhadores numa fábrica fazem 80% do trabalho. Sim, e de facto, estes meios de distribuição estão postos em prática para estes 20%. Porque são estes 20% que, para bem ou para mal, impulsionam o mercado livreiro. São estes 20% que fazem todo o dinheiro para que depois se possa investir em escritores que não vendem tanto. São estes 20% que fazem com que uma grande rede editorial possa ter chancelas que não vendam ou que não sejam rentáveis ou que produzam lucro. Agora. 60, 80, 60, 70%. Este valor é mais pequeno quando estás com uma, com uma editora, porque já acordos entre.
Diogo Pires 00:23:48
Claro e poder.
Pedro Freitas 00:23:49
Negocial.
Pedro Freitas 00:23:49
Nenhum poder negocial maior. Exactamente. Mas é tal coisa, por um lado que é algo que eu tenho sentido e mais credível Tu. Ou seja, deixa me colocar por outro, outra outra perspetiva e menos credível aqui para para, para a intelectualidade académica portuguesa. Tu existires só no digital podes vender os números que quiseres. Se não estás nas livrarias. Se não estás nas redes, nos pontos de venda, tu és uma pessoa que só existe neste ali e, portanto, vejo isso também como um investimento naquilo que é a credibilização do autor. Mas ao mesmo tempo, acredito que seja aqui um. Acredito que seja aqui uma que estejamos a experienciar uma mudança de paradigma e que estamos de facto naquilo que toca a compras online. E o vídeo 49 vem nos ajudar muito com isso.
Diogo Pires 00:25:07
Sim, seguramente.
Pedro Freitas 00:25:09
E sim, mas ser justo? Não é? Mas se me perguntares assim outra coisa que é muito bem, eu vendi 4000 exemplares do meu livro Uma poeta canadense que, para todos os efeitos, é uma das maiores poetas mundiais, que é a Rupi Kaur.
Pedro Freitas 00:25:33
Eu não sou necessariamente fã da Rupi Kaur enquanto enquanto produção literária, mas sou fã daquilo que ela representa, no sentido de ter sido a primeira poeta a levar uma tour mundial de poesia, a fazer uma tour mundial de poesia. Não sei. Não sei se gosta da Rupi Kaur. Não sei não.
Diogo Pires 00:25:55
Eu não estou a conseguir juntar uma obra ao nome, mas eu conheço o nome Rupi Kaur.
Pedro Freitas 00:26:00
Pronto, ela tem aquele livro As Flores e o Mel, da Santos and Flowers.
Diogo Pires 00:26:06
Com Eu tenho mais ideia.
Pedro Freitas 00:26:11
Melhor.
Diogo Pires 00:26:12
Eu tenho mais ideia da estética que existe em torno do nome dela.
Pedro Freitas 00:26:19
Aquele poema instagramável, sabe ela. Eu não sou necessariamente fã dessa produção, mas sou fã do que ela representa em termos daquilo que eu quero fazer e que seria uma tour mundial de poesia, por exemplo. Mas ela escreveu o seu primeiro livro de forma independente no Canadá. Vendeu 15.000 exemplares e depois foi foi usurpada por uma editora usurpada. É um mau? Não bom termo? Foi.
Diogo Pires 00:26:52
Mas propuseram lhe um lugar no portfólio da editora.
Pedro Freitas 00:26:54
Foi, Foi exatamente. Foi, Foi. Eu quero dizer, não quer dizer pegada. Foi escolhida por uma série de. Exato. Sim, sim, sim, pois foi escolhida por uma editora para integrar o portfólio. E daí de repente, passou de 15.000 para. 4 milhões ou 5 milhões, claro. Ou seja, aqui em Portugal o mercado não só é infinito, infinitamente mais pequeno, como lê se infinitamente menos. Sim. Portanto, para mim, vender 4000 exemplares e vender 15.000 no Canadá. E de facto é.
Diogo Pires 00:27:40
Sim, se fores fazer a proporção.
Pedro Freitas 00:27:42
À escala 4000 exemplares em Portugal são 15.000 nos Estados Unidos ou no Canadá.
Diogo Pires 00:27:48
E já tiveste aquilo que aconteceu com com Happy Hour? Já, já tiveste também editoras a.
Pedro Freitas 00:27:57
Colocarem.
Diogo Pires 00:27:57
Alguma abordagem em cima de ti?
Pedro Freitas 00:27:59
Deixa me só, mas deixa me só acabar este texto. Este, este ponto. É impossível tu conseguires chegar a um ponto de venderes 30 ou 40.000 exemplares sozinho, Estando num só ponto de venda. Um site que consiga vender 30 ou 40.000 exemplares, o que quer que seja, está nos maiores sites de e-commerce de Portugal.
Pedro Freitas 00:28:24
É tipo uma porta e uma Fnac. Nunca na minha vida eu, o poeta da cidade, aponto como vai conseguir vender 30.000 do que quer que seja só estando ali. E, portanto, aqui, este esta abordagem em massa, nas nos quase 2010 2000 e muitas redes pontos de venda daquilo que é o mercado livreiro, tanto em multi venda como as Fnac e o seu corte inglês, como os continentes.
Diogo Pires 00:28:59
E os chamados locais habituais.
Pedro Freitas 00:29:00
Bertrand. É exatamente só dessa forma que tu consegues chegar a aquilo que é uma grande massificação. E o meu objectivo é muito esse. O objectivo é vender o máximo de livros que conseguir. E eu estou neste ponto. Perguntaste me sobre as editoras. Eu não consigo chegar a esse ponto sozinho. É muito e muito duro. Outro outro exemplo o Pedro Sobral, o presidente da Opel. Ele contou uma história que eu não sabia. O Paulo Coelho, um best seller. Toda a gente conhece o Paulo Coelho, best seller durante anos a fio, depois de de estar colocado como o Paulo Coelho, o número um em todo o lado, ele decidiu.
Pedro Freitas 00:29:55
Calma lá. Eu, em vez de estar a fazer isto com uma editora, agora que já toda a gente conhece e toda a gente sabe quem eu sou e toda a gente compra os meus livros, eu vou começar a fazer isto sozinho e portanto, ele saiu da editora e. Hugo não sei quantos armazéns e começou a fazer ele a própria distribuição para o mundo inteiro. Agora, obviamente que estamos aqui a falar a uma escala muito maior, porque o Paulo Coelho está traduzido para não sei quantas dezenas de línguas para o mundo inteiro. E aquilo que aconteceu foi passado três ou quatro anos. O Paulo Coelho saiu de todos os tops. Já não é best seller best, já não era best best seller em lado nenhum. Pouco se ouvia falar do Paulo Coelho e ele percebeu que era muito mais duro fazer o trabalho sozinho do que com uma infraestrutura cujo trabalho é só aquilo e pronto. E depois ele voltou outra vez para uma editora, para, para, para, para, para se poder largar desse peso. E é aqui.
Pedro Freitas 00:31:01
Aqui acontece me a mesma coisa que eu. Eu romantizada a ideia de vou manter, vou manter independente até ao fim. Vou e vou conseguir vender milhares. Eu provavelmente havia de conseguir vender 10.000 livros, que já era uma grande, uma grande coisa. Tenho a certeza que sim. Só que o próprio. O próprio tempo de vida do livro é muito curto. Nós olhamos para escritores, grande parte dos romancistas que temos em Portugal, aqueles que vivem no livro, primeiro de tudo, não vivem só do livro, mas aqueles que fazem o máximo para viver do livro. Não escrevem um livro por ano, uma parte das vezes escrevem dois. E o meu livro está com um tempo de vida distante, de prateleira. Está agora a fazer dois anos e eu falo dele todos os dias, como se tivesse acabado de o dia de lançar, de o lançar. Só que E fazendo isto e tendo os números que tenho agora que foi o foram, foram subindo gradualmente. Mesmo assim, é duro chegar a este este número de best seller nacional.
Pedro Freitas 00:32:20
Começar a competir contra os grandes romancistas portugueses.
Diogo Pires 00:32:24
Tu dizes no final do livro, na nota biográfica. Também aqui em linha com isto que estamos a falar, que que este foi o livro de poesia mais vendido de 2022 de poesia portuguesa, mais vendido em 2022 em Portugal. Antes de mais, muitos parabéns por isso.
Pedro Freitas 00:32:45
Obrigado.
Diogo Pires 00:32:46
Para medirmos o pulso à realidade de um escritor. Uma pergunta muito crua sendo este o livro de poesia portuguesa mais vendido em Portugal no ano passado, e tendo em conta tudo aquilo que temos estado aqui a falar, tu hoje em dia conseguirias dedicar se a 100% à poesia? Vivias do teu livro.
Pedro Freitas 00:33:10
Se me soubesses, seria melhor. Consegui.
Diogo Pires 00:33:15
Estava à espera dessa resposta.
Pedro Freitas 00:33:18
Porquê? Porque não? Porque? Porque de facto não. Ou seja. Se a pergunta for se eu quero, não quero. Porque a verdade é que eu sinto me muito mais devedor de poesia do que escritor. A palavra dita toma um lugar primordial na minha vida que a palavra escrita não toma tanto. Não é mais importante nem menos importante.
Pedro Freitas 00:33:44
Toma. Tomam lugares diferentes. Portanto, eu nunca quereria só viver do livro se eu quisesse só viver do livro. Obviamente que não ia viver bem no meu viver abastado, sim, mas se me soubesses.
Diogo Pires 00:34:00
Também acredito que poucos seriam os autores, não só em Portugal, mas que o consigam fazer.
Pedro Freitas 00:34:04
Lá está, somos 20%. 20% de autores vendem 80% de todos os livros de contos pelas duas mãos. Os autores que que vivem dos livros que escrevem. Agora, se eu quisesse, eu de facto. Conseguia. O problema é que aquilo que estávamos a falar ainda há bocado. Nós temos muito pouca educação financeira e de repente vejo me numa posição em que tenho e eu estou numa posição completamente diferente da maior parte dos escritores. Essa é outra coisa que os escritores com uma editora escrevem um livro e depois só recebem. O que recebem adiantado. Mas tens de ser uma pessoa consagrada para que? Para que isso possa entrar na discussão do contrato. A maior parte dos que ficam ali não acontece num.
Diogo Pires 00:35:02
Período em que esperam que as vendas por faça se.
Pedro Freitas 00:35:04
Exatamente, ou então recebes duas, uma ou duas vezes por ano, que é quando a consultora faz a consultoria ao mercado, vê que livros é que foram vendidos, quantos é que foram vendidos, etc. E tens esses itens, esses valores eu recebo todos os dias. Que é uma coisa boa por um lado, e é uma coisa má por outro, que de repente eu tenho dinheiro todos os dias e é outra coisa e que também não é dinheiro meu. Estou numa posição em que tenho IVAs para pagar, tenho IRS para pagar? Tenho, tenho, Tenho gastos com o livro, tenho que pagar o livro? Tenho que pagar? Há toda uma logística por detrás disto que aquilo que eu pensava que eu gostaria, que gostei durante o primeiro ano, mas que depois começa te a tirar tempo daquilo que tu queres fazer e que é dedicar te, por exemplo, um outro livro Agora eu conseguia viver, mas eu tinha de me saber gerir melhor. E esta é uma das razões. O facto de receber todos os dias, receber dinheiro que não é teu porque é o IVA e depois tens de pôr o IVA de parte e depois perdes te um bocadinho e depois as coisas vão acontecendo e de repente eu acho que.
Diogo Pires 00:36:21
Essa é uma realidade partilhada com muitos freelancers. Isto acontece recorrentemente. É normal? Sim, é.
Pedro Freitas 00:36:27
Normal. Eu acredito que sim, acredito que sim, mas, mas, mas pronto. Mas ter um produto comum como um livro e ser capaz de viver dele, toda a gente me dizia é muito linda, dizem. E é duríssimo viver da venda de um livro. E é verdade. Mas. Lá está, é verdade. Se venderes 500, começares a vender um bocadinho mais cinco, 10.000 já é uma coisa que tu consegues gerir. Uma coisa que fácil gestão. E depois se entras nos nos nos milhares, nos 40 ou 50.000 estás no top um de Portugal em termos em termos de salariais, Quase.
Diogo Pires 00:37:16
E é fantástico que tu consigas fazer tudo isto sozinho. Toda esta, toda esta máquina que que montar te, montar te a tu. O conteúdo é a base fundamental para qualquer obra, para qualquer produto. E neste caso, nós falamos de quando falamos de conteúdo, falamos dos teus poemas, falamos da tua obra, aquilo que construíste agora.
Diogo Pires 00:37:42
Para chegares ao marco que chegaste e teres o livro de poesia portuguesa mais vendido em Portugal num dado ano, que no caso foi 2022, o conteúdo não chega. Não é nada que. Teres Ter um bom livro no mercado que ninguém conhece é o mesmo que que que não o ter quase. Não sentido olhando para para uma questão de venda e enfim, para atingirmos estes números que falávamos.
Pedro Freitas 00:38:11
Um escritor só escritor se as pessoas o lerem.
Diogo Pires 00:38:13
Exactamente. Como é que tu trabalhaste e ainda trabalhas o marketing desta obra?
Pedro Freitas 00:38:21
Todos os meus poemas são passíveis de serem ditos e uma das é uma das principais e um dos meus principais cuidados. Quando escrevo. Eu escrevo para dizer mais do que para ler. E, portanto, eu sabia que quando o escrevi é porque já tinha tentado, já tinha feito alguns, algumas experiências antes de sequer de ter avisado que o livro vinha aí. Tinha feito algumas experiências no TIC TAC de leitura de poemas do meu livro e quer dizer, eu digo poesia para as redes sociais desde 2017.
Pedro Freitas 00:38:57
e agora eu perdi esse meu canal no YouTube e portanto não há, não há, não há provas, mas daquilo que estou a dizer, mas ainda assim. Ainda no Instagram eu tenho excertos desses desses vídeos no Insta 2017 2018. Tinha um programa que se chamava. Tinha um programa que se chamava Medita. Um programa. Tinha um segmento no YouTube que eu pensava que ia resultar muito bem. E quer dizer que é que é engraçado? Que era dizer músicas de autores e de músicos conhecidos portugueses em poesia, sei lá, disse Carolina Deslandes. Disse Carminho, disse o gang. E nunca resultou. Nunca. O máximo que tive foi 1000 views e depois, passado dois ou três, três, três anos, iniciou o tic tac em 2020. Passado dois anos eu faço a mesma coisa no Tic-Tac, não tão produzido, mas uma coisa mais slim cá PSD, mas em poesia e de repente é 100.000 views, 200.000 views. É uma coisa que.
Diogo Pires 00:40:17
Me fascina completamente.
Pedro Freitas 00:40:18
Meu Deus! O meio, a forma como o meio influencia o conteúdo que chega ao consumidor.
Pedro Freitas 00:40:27
E, portanto, eu digo poesia há muito tempo e já o disse em todas as redes sociais e portanto, eu sabia que um dos caminhos que tinha como marketing do livro seria o de leitura dos meus poemas para as redes. Um ponto. E foi um ponto que que eu ainda hoje faço. E que nunca lá está. No YouTube Tube. Também não me prendi só à leitura de coisas minhas ou de músicos. Li muito. Depois tinha um outro segmento que era a poesia na cidade e que era uma coisa pensada na altura em que eu comecei este projecto do poeta da cidade, esta marca do poeta da cidade é que fui ao talento ao mesmo tempo. O meu objectivo era ser uma pessoa. Não é reconhecível, quer dizer, sem cara.
Diogo Pires 00:41:22
Também só me lembro de Faceless. Nós lembramos das expressões todas em inglês. Primeiro, é horrível o que é que está a acontecer connosco.
Pedro Freitas 00:41:28
E que está a acontecer connosco?
Diogo Pires 00:41:31
Sim, mas fica a ideia.
Pedro Freitas 00:41:32
Fica a ideia. Pronto, é o conceito dos vídeos.
Pedro Freitas 00:41:36
Era eu estar sempre de costas no meio da cidade de Lisboa, em vários pontos a dizer poesia, disse Alberto Caeiro. E disse José Craveirinha É, disse António Gedeão. Portanto, esta minha propensão para dizer poesia. A poesia de outros, pois em mim é poesia de músicos, É uma coisa que vem de há muito tempo, não é de agora. Não é ter 100.000 seguidores no Tic-Tac. Fácil não é ter 60.000 seguidores no Instagram que eu fazia no Instagram também quando tinha 1000 seguidores ou 2000 seguidores. É uma coisa que faço. E ao contrário daquilo que muitas vezes são as trends nos influencers em que têm números e propõem se a fazer, propõe se em empreendimentos artísticos. O Para mim foi o contrário. Eu propus me empreendimentos artísticos e os números vieram por causa disso. Mas, portanto, uma das uma das estratégias de marketing e ia ser, foi essa e essa leitura dos poemas. A outra foi muito de uma introspeção e extrapolação da minha pessoa quando utilizava as redes. Ou seja, eu estou no tic tac.
Pedro Freitas 00:42:51
Eu horas passei horas no tic tac. Passei horas no tic tac. Tenho a minha desculpa que era para isto tudo, mas pronto para o benefício do trabalho. Mas. Mas a verdade é que eu estava no tic tac. Estava. Digamos aqui quase roboticamente no Skype e quando eu parava para ver um vídeo, eu apanhava e ok, o que é que? O que é que está a acontecer aqui que me apanhou? Porque é que eu parei para ver este vídeo? E muitos dos vídeos que eu parava eram vídeos de preparação de coisas, embalamento. O voice overs a fazer e a fazer, fazer um de processos e portanto, de repente eu vi. Ok, eu gosto. Isto é algo que me cativa. Eu posso tentar pegar nisto e ver se cativa também as outras pessoas. E daí veio fazer o making of do livro na gráfica, daí veio agora o embalar os livros. É que as pessoas dizem que compraram com o número das encomendas, ou seja, tudo aquilo que que que que me prende a mim e que eu vejo nos outros e que eu sinto que eu consigo incorporar isto nisto que faço.
Pedro Freitas 00:44:14
Tento que seja uma campanha, uma estratégia de marketing. Tentei, tentei, tentei os os meios tradicionais, tentei a rádio, tentei o Expresso, tentei e, portanto, toda a estratégia de marketing foi muito baseada na minha pessoa. Para todos os efeitos, o poeta da cidade, ainda que uma persona, é indissociável de mim próprio e só é poeta da cidade porque Pedro Freitas seria impossível eu ganhar aqui terreno ao outro Pedro Freitas, que existe na literatura portuguesa, que é o Pedro Chagas Freitas. Não ia dar, Não podia, não dá. As pessoas iam pensar que era a mesma pessoa e, portanto, o poeta da cidade. A escolha do poeta da cidade foi por aí, mas. Mas o poeta da cidade é uma pessoa, é alguém indissociável de mim próprio. Sou eu e, portanto, toda a minha estratégia de marketing reside no digital. E reside muito tempo depois. A outra, lá está outra vertente que eu gosto muito de trabalhar a imagem também. Trabalho com vídeo há muitos anos.
Pedro Freitas 00:45:30
Lá está YouTube, vídeos. Tinha uma Nikon que era do meu pai, com uma lente normal de zoom e depois as coisas eu fui, fui aprendendo, fui aprendendo. Fui trabalhar para comprar a minha primeira Sony, fui trabalhar para comprar as minhas primeiras lentes Prime. Fui trabalhar para comprar os meus primeiros microfones, os meus primeiros gravadores externos, porque eu sabia que.
Diogo Pires 00:45:57
O futuro.
Pedro Freitas 00:45:59
É aqui. Se quiseres entrar, depois noutro, noutro meio, também podemos que os jovens, a nossa geração, a geração mais mais nova. Já sabe ler pouco, não quer saber da poesia, etc. Era o que eu pensava. E quer dizer, eu tinha saído do secundário há pouco tempo, portanto via dos meus colegas isso. Mas depois, à medida que vou falando das escolas, vou recebendo mensagens de miúdos. Apercebo me de que não é que eles não queiram saber. A poesia chega lhes de uma forma completamente despida de. De alma, percebes? Os miúdos Tu tens que idade?
Diogo Pires 00:46:42
Eu tenho?
Pedro Freitas 00:46:43
25 anos, a mesma idade, ou seja, a poesia é nos e nos dada como um uma panóplia de características formais e características culturais e sociais.
Pedro Freitas 00:46:58
E porque temos de saber os usos, as métricas e temos de saber de tudo e mais alguma coisa para depois despejar tudo no exame e descobrir a poesia. Desta forma, é obviamente uma fórmula para o insucesso e, portanto, muito do meu trabalho foi de como é que eu posso encapsular a poesia da forma mais apetitosa possível. O que as pessoas estão a passar horas inteiras numa rede social de vídeo? Para Pedro, tens de ver. Imagina o que é que podes fazer que pode, que possa incorporar aqui a poesia num scroll automático, Quase irracional dos miúdos é o vídeo e o áudio e esta minha propensão para a qualidade estética. E veio muito dessa procura por uma maior facilitação de. Entrada da poesia na vida dos jovens.
Diogo Pires 00:48:04
E é muito confortável ver os teus vídeos e acho que é exactamente essa fusão que permite esse esse conforto. Lá está aquilo que falávamos há pouco o conteúdo é óptimo, o conteúdo, o teu, a tua obra é óptima, mas o facto de teres construído tudo o resto para potenciar esse alcance da tua obra, foi fundamental a questão da preocupação estética que tu tens na imagem que apresentas de cada vez que apareces nas redes sociais.
Diogo Pires 00:48:35
O cuidado que tens com o áudio, que é o que permite muitas das vezes, conforto num vídeo. Por estranho que isto possa parecer. Sim, sim.
Pedro Freitas 00:48:42
Sim, é verdade.
Diogo Pires 00:48:43
Mas. Mas todos esses cuidados fazem a diferença. E acho que é também por aí que é muito. É muito confortável ver, ver os teus vídeos.
Pedro Freitas 00:48:55
É um bom sinal. Então eu estou no caminho certo. Se é isso que achas e que sentes?
Diogo Pires 00:49:02
Acho mesmo que sim. Há 1A1 pergunta. Eu sei que nós estamos a acabar o episódio, mas é uma pergunta que que eu fiz durante uma conversa aqui no manual de Boas Ideias e que gostei muito da resposta. Gosto sempre destas histórias por onde esta questão nos leva e portanto, vou fazer te a ti também. Qual é que é a memória mais longínqua que tens e que de alguma forma te liga àquilo que fazes e que és hoje?
Pedro Freitas 00:49:30
Tenho algumas. Mas sou uma pessoa que vive muito no passado. Profundamente nostálgica, profundamente melancólica. Para bem ou para mal e.
Pedro Freitas 00:49:47
A uma alma. Uma memória que tenho de quando passei. Eu tinha uma família muito grande. Avós, tios, primas, os meus pais, nós passávamos, nós passávamos férias todos juntos em Sesimbra. E isto foi em 2000 e. 2006 saiu praticamente o CM daqui, quer dizer, 2005 para aí 2005. Nós estamos numa casa em Sesimbra com janelas e eu estou com a minha prima e foi o ano em que a minha prima me introduziu ao Sobretudo do que é ao som do Lancelot do Sully. É um som Wayback Way Back. É um som de homenagem. A um gajo de Odivelas que morreu, que era amigo do Lancelot e foi e é a minha primeira memória ou a minha memória mais mais longínqua, memória mais longínqua que tenho de uma introdução ao Hip-Hop, ao Rap e. Se não tivesse sido o rap, se não tivesse sido sempre aqui, eu muito provavelmente não estaria a fazer o que eu estou a fazer hoje. Foi com o CM daqui que eu descobri Miguel Torga. Foi sendo aqui que eu descobri José Régio Foi o Foi aqui que eu ouvi pela primeira vez poesia dita no contexto pop.
Pedro Freitas 00:51:42
Não, não pop pelo que ele faz ser pop, mas pop no sentido de num meio musical, que é, que é que é pop up é um meio massificado para as pessoas. E se não fosse a minha prima a mostrar o samba, se não fosse a minha prima a mostrar o Tupac mostrou me o Kanye West. Em anos depois que se disse que foram seguindo. Eu nunca tinha, nunca tinha interessado por este caminho e. Imagina, a minha prima mostrou me o CD daqui, Eu pelo CM daqui, descobriu Napoleão. Que é o pai do Sandro, aquele que tem textos fenomenais dentro do praticamente tem textos fenomenais dentro do do sobretudo também. E se eu não tivesse descoberto o Napoleão, eu em 2014 não tinha descoberto o poema Máscaras de Orfeu, que ele escreveu um poema. Imagina! O José Régio escreveu o Cântico Negro com 26 anos. Para mim, aquilo é o Cântico negro do Napoleão. Máscara de Orfeu. Eu lembro me. E outra memória também muito boa. Lembro me perfeitamente. Ester.
Pedro Freitas 00:53:16
Nós estávamos todos em casa outra vez. Era um contexto familiar de festa festivo qualquer, não me lembro bem qual. Eu lembro me de estar no meu quarto e ver aquilo, de estar a ouvir aquele poema e de ficar. visivelmente emocionado. E eu pensei eu um dia vou, vou levar isto a algum lado. 2014 Não sei quando, não sei o quê, não sei como, mas um dia eu este poema vai vem comigo para um ano e em 2017 decidi levá lo ao talento e dizê lo em. Em televisão nacional, em prime time. E depois me fez. Fez com que conhecesse o Napoleão e conhecesse o Sam também. Portanto, são essas são duas memórias que estão interligadas por vários anos, mas mas que são fundamentais naquilo que sou hoje.
Diogo Pires 00:54:19
Que ótima resposta. Sabia que tinha muita, muita esperança de que fossemos viajar. Como? Como viajamos? Pedro, eu quero só fazer te mais uma questão. Faz? Faz Quanto do teu mindset de atleta que foste está hoje naquilo que faz de ti um autor e empreendedor.
Pedro Freitas 00:54:42
Um sacrifício. E, principalmente, um sacrifício. E. Esta noção de. Ganhos tardios. Tu produzes trabalho. Tu dedicas a 100% a algo, mas só verás quaisquer tipo de ganhos ou produtos passado muito tempo. E é, eu comecei a fazer, joguei futebol, mas depois comecei a fazer atletismo aos dez anos e fiz.
Pedro Freitas 00:55:28
Phi.
Pedro Freitas 00:55:29
Lo de forma profissional até até ir para Júnior com 18 anos. Depois a vida meteu se no caminho e eu também. Geneticamente não ajudou muito porque sou pequeno e portanto depois tive de deixar de competir, mas ainda treino. Mas durante esses quase 11 anos não nove fui até aos 20, foi até os 18 e os 20. Portanto, durante esses dez anos, 11 anos. Foram muitas as vezes em que em que tu estás a treinar e eu pronto atletismo. Formei me mais em saltos, salto em comprimento e triplo salto. Também gostava muito de barreiras e detestava. Detestava treino de. Não é cardio, mas pode ser cardio. treino de cardio, quero umas séries, correr 100 metros, 200 metros, 300 metros, coisas que cansavam muito e que eu gostava de correr, mas não gostava de correr durante muito tempo.
Pedro Freitas 00:56:37
Sim, e eu lembro me perfeitamente de serem o tipo de treinos em que tu estás a meio. Queres vomitar com tudo aquilo que tens, queres ir para casa porque está frio, está chuva, tu só te queres. Só quero estar confortável e más. Mas sabes que desistindo aqui não estás a fazer, não estás a fazer um favor a ti próprio, estás a fazer um serviço ao Pedro do futuro e esse sentido de sacrifício foi o que mais me e aquilo que mantenho comigo no caminho.
Diogo Pires 00:57:19
Pedro, muito obrigado por teres aceitado o meu convite. Obrigado. Gostei muito desta desta conversa.
Pedro Freitas 00:57:23
Foi uma honra. Muito obrigado. Obrigado. Bom trabalho.