TL;DR
Histórias de sucesso instantâneo quase nunca são o que parecem. Elas escondem anos de trabalho árduo, resiliência e tentativas falhadas. O “overnight success” é um mito que pode distorcer as expectativas de empreendedores, levando muitos a desistir cedo demais. Nesta edição, exploramos os bastidores do sucesso verdadeiro e trazemos lições valiosas de líderes como Jeff Bezos e Steve Jobs, além de estudos e livros que desmontam essa ideia de sucesso imediato.
Spotlight
Imagina este cenário: um empreendedor desconhecido aparece subitamente em todas as manchetes, celebrado como o próximo grande caso de sucesso. O mundo parece ter sido apanhado de surpresa, e muitos acreditam que ele atingiu o auge do sucesso praticamente de um dia para o outro. Este fenómeno, conhecido como “overnight success”, é uma narrativa sedutora – mas quase sempre falsa.
Vamos começar com um exemplo clássico: Jeff Bezos. Fundador da Amazon, hoje uma das empresas mais valiosas do mundo, Bezos é frequentemente retratado como um génio cujo sucesso foi rápido e certeiro. Mas a verdade é que ele passou anos a trabalhar em silêncio. A Amazon começou em 1994 como uma livraria online numa garagem, com Bezos a empacotar livros e a levá-los ao correio pessoalmente. Em entrevistas, Bezos insiste: “Todas as noites, eu tentava fazer a Amazon um pouco melhor do que na noite anterior. Construir uma grande empresa leva tempo – e isso é bom!”
O mesmo padrão é observado em quase todas as histórias de sucesso que conhecemos. Steve Jobs, cofundador da Apple, é outra figura muitas vezes associada ao génio visionário. Mas Jobs também enfrentou uma longa jornada de trabalho árduo e revezes. Ele foi demitido da própria empresa em 1985, enfrentou um período de reflexão e só regressou à Apple em 1997. Foi apenas então, depois de décadas a aprender com os erros e a construir equipas, que surgiram produtos icónicos como o iPhone. Jobs sintetizou essa realidade com uma frase memorável: “Se olhares com atenção, a maioria dos sucessos da noite para o dia demorou muito tempo.”
O Que Dizem os Estudos?
Andei a procurar na Internet por suporte para esta tese de que o “overnight success” é um mito. Encontrei dois estudos.
Recentemente, investigadores têm tentado medir o tempo necessário para que uma ideia se transforme em sucesso. Num estudo publicado na Harvard Business Review, foi analisado o percurso de mais de 200 startups que alcançaram avaliações multi-milionárias. O estudo concluiu que, em média, levaram cerca de 7 a 10 anos para alcançar este patamar – um período muito maior do que o que geralmente aparece nas notícias.
Outro estudo, conduzido pela Duke University, revelou que empresas que crescem de forma acelerada e repentina frequentemente enfrentam um maior risco de colapso. “O crescimento sustentável é como construir uma ponte sólida: precisa de planeamento cuidadoso, materiais de qualidade e, acima de tudo, tempo para consolidar,” explica um dos autores da pesquisa.
Os Bastidores do Sucesso
Um dos motivos pelos quais o mito do “overnight success” persiste é que vemos apenas o “ato final” de uma longa jornada. O sucesso, muitas vezes, é apresentado como algo simples porque os bastidores são invisíveis ao público. Em vez disso, somos bombardeados com histórias simplificadas, porque elas vendem mais.
No livro Outliers, Malcolm Gladwell explora o conceito das “10.000 horas”. Ele argumenta que são necessárias, em média, 10.000 horas de prática deliberada para alcançar a excelência em qualquer campo – desde desporto a tecnologia. Embora o número exato possa ser debatido, a ideia principal é inegável: o sucesso é construído a partir de um esforço contínuo e sustentado.
Um exemplo marcante é o de Billie Eilish. Ela tornou-se um fenómeno global com o lançamento do seu álbum de estreia em 2019, mas já escrevia e produzia músicas com o irmão desde os 11 anos de idade. “É engraçado como as pessoas pensam que aconteceu do nada,” disse Eilish numa entrevista. “Mas ninguém viu os anos em que escrevíamos canções no nosso quarto e ninguém as ouvia.” Esta história é comum a vários ícones pop da atualidade.
Lições para Empreendedores
O mito do sucesso rápido pode ser prejudicial, especialmente quando estamos a iniciar as nossas jornadas. Quando os resultados não aparecem imediatamente, muitos ficam desmotivados ou acreditam que estão no caminho errado. Calma. A realidade é que o progresso raramente é linear. Cada pequeno passo, cada lição aprendida com um erro, cada cliente conquistado conta.
Aceita o Processo: O sucesso é um percurso, não um destino. Aprende a valorizar cada etapa, mesmo as mais difíceis.
Foco no Longo Prazo: Em vez de procurar resultados rápidos, constrói uma base sólida para o teu negócio. Isso inclui criar processos, entender o teu mercado e estabelecer relações duradouras com clientes e parceiros.
Celebra os Pequenos Avanços: Reconhece que cada pequena vitória é uma peça fundamental na construção do teu sucesso.
Resiliência é Fundamental: Muitos empreendedores desistem demasiado cedo. Lembra-te de que os maiores êxitos frequentemente vêm depois de períodos de frustração e dúvida.
O Verdadeiro Significado do Sucesso
Por último, é importante redefinir o que significa “sucesso”. Muitas vezes, associamos a ideia de sucesso a riqueza, acredito que essa é uma visão limitadora. O verdadeiro sucesso pode ser tão simples quanto criar um produto que melhora a vida das pessoas, construir uma empresa que respeita os seus valores ou viver uma vida alinhada com as tuas paixões e objetivos.
Como Jeff Bezos afirmou: “Se decidires fazer apenas coisas que sabes que vão funcionar, vais deixar muitas oportunidades em cima da mesa. Sucesso e falha caminham lado a lado.”
Ao desmistificar o “overnight success”, podemos adotar uma abordagem mais realista e saudável para alcançar os nossos objetivos. Afinal, o sucesso raramente é um momento; é uma série de momentos – e o culminar de um esforço contínuo.
👀 Ora, deita aqui um olhinho…
Esta semana publiquei um novo episódio do Manual de Boas Ideias, onde faço uma análise do ano que passou e partilho uma framework prática que vos pode ajudar a fazerem o mesmo. A reflexão pessoal e profissional é uma ferramenta poderosa, e acredito que olhar para o que correu bem, o que podia ter sido feito de forma diferente, e planear os próximos passos é essencial para crescermos. Faço sempre esta reflexão em dezembro, todos os anos. Serve quase de terapia, para mim.
Ora, uma consideração que, creio, será unânime: o tempo é o recurso mais escasso que temos, e usá-lo de forma estratégica faz toda a diferença.
Agora, uma consideração que pode gerar alguma discussão: a framework que apresento no episódio desafia a ideia de que devemos planear os próximos meses com base apenas no que nos trouxe sucesso até agora. Em vez disso, proponho que pensemos onde queremos estar daqui a 3, 5 ou até 10 anos e recuemos até ao presente para traçar esse caminho. Seguindo esta lógica, o passado informa-nos, mas não nos define. Será?
Faz sentido, isto? Espero pelas vossas respostas!
